Em 1950, o matemático e cientista da computação, Alan Turing, concebeu o primeiro teste de inteligência artificial. O pai da computação, como o britânico é conhecido, propôs através do artigo “Os aparatos da computação e a inteligência”, a possibilidade de uma máquina reproduzir pensamentos e até dialogar com um humano.
“O jogo da imitação”, nome dado por Turin — e que em 2014 virou filme da Netflix — pretendia ser um esboço do que um dia seria possível, máquinas conversarem com seres humanos, como se pudessem pensar e adquirir consciência.
Parece que este tempo imaginado pelo cientista chegou, em certa medida. Em novembro de 2022, o laboratório estadunidense de pesquisa em inteligência artificial (AI) OpenAI, lançou um chatbot, chamado ChatGPT, Sigla para Generative Pretrained Transformer. O GPT é um modelo de linguagem baseado em redes neurais que transforma o questionamento dos usuários em respostas. “O seu grande diferencial é que esse modelo aprende a partir de uma quantidade gigantesca de dados, em sua maior parte oriunda da internet, como notícias, livros, sites, artigos de revistas, etc. Isso faz com que o ChatGPT entenda perguntas complexas e gere respostas em uma linguagem muito natural para nós, humanos”, explica o engenheiro da computação e mestre em ciência da computação, João Magalhães.
A OpenAI nasceu em 2015 com investidores do porte do bilionário Elon Musk, da Tescla e agora do Twitter. Microsoft anunciou um aporte de US$ 10 bilhões nessa startup em janeiro, período onde acumulou 100 milhões de usuários
A habilidade do chatbot de criar textos do zero, está relacionada a grande quantidade de notícias, fóruns e livros que somam 570 GB de textos, ou 40 bilhões de palavras utilizadas pelo software. A OpenAI usou a técnica de “transfer learning” que é um modelo de treinamento baseado em fontes escritas.
Especialistas em tecnologia apontam a ferramenta como uma mudança radical na indústria pela capacidade de responder perguntas, descrever imagens, sugerir receitas, criar slogans e criar textos (que muitas vezes podem ser plagiados). Apesar do software ter sido lançado recentemente, ferramentas como Siri, Alexa e Google Assistente já utilizam versões mais modestas para as bases do ChatGPT. “Todos eles passarão a utilizar os grandes modelos de linguagem, assim como o ChatGPT”, afirma Magalhães.
Nesta semana a Microsoft anunciou novas versão do Bing e do Edge, seus mecanismos de busca, com uma versão mais poderosa do ChatGPT. “A IA mudará fundamentalmente todas as categorias de software, começando com a maior categoria de todas — a pesquisa”, afirmou Satya Nadella, presidente e CEO da Microsoft em comunicado. Nas últimas semanas bigTechs incorporaram o chatbot ao seu radar de lançamentos e investimentos, como por exemplo, o Google, que lançou o Bard, para concorrer ao software da OpenAI e o da Microsoft.
Para o professor, cada vez mais essas novas tecnologias serão comuns e farão parte do nosso cotidiano. “ChatGPT é a ponta de um iceberg de possíveis aplicações extraordinárias a partir dos grandes modelos de linguagem natural”. Magalhães continua: “A minha aposta é que os assistentes serão a próxima grande onda de aplicativos, tanto no âmbito pessoal, quanto nos âmbitos educacional e profissional. Em um intervalo de poucos anos, todos nós aprenderemos e faremos o nosso trabalho acompanhado de um assistente”, analisa o cientista.
Carreiras podem ser afetadas pelo ChatGPT e suas versões no futuro
Desde que foi lançado, o software tem chamado atenção não só dos aficionados por tecnologia, mas também dos especialistas em carreiras. Segundo pesquisa da Fishbowl, plataforma de propriedade do site de avaliação de empregos Glassdoor, dos 4.500 entrevistados, 30% disseram que já usaram o ChatGPT no ambiente de trabalho. Entre os entrevistados estão funcionários de multinacionais como Amazon, Google, Twitter, Meta e os bancos JP Morgan e Bank of America.
A ferramenta é usada no ambiente corporativo para redigir e-mails, escrever, resumir pesquisas ou anotações de reuniões. Porém, especialistas em mercado têm sido céticos quanto à substituição de máquinas por humanos no mercado de trabalho. “As IAs oferecerão um suporte mais eficiente ao desenvolvimento de suas funções de trabalho como, por exemplo, a celeridade na análise de dados para as tomadas de decisão. Mas acredito que tais ferramentas não substituirão o profissional, visto que nada substitui a subjetividade humana”, afirma a professora e consultora de carreira da Thomas Case, Luciana Orlando.
Para a profissional, o mercado se adapta às novas formas de tecnologias como aconteceu com os casos “Datilógrafo(a) x Digitador(a) x Plataforma de Leitura e Digitalização Inteligente (Especialista de IA)”. São os estudantes que se mostram entusiasmado com um plataforma que possa fazer trabalhos escolares e acadêmicos, fato que já preocupa professores e universidades. Escolas e universidades americanas e australianas já baniram o sistema de seus computadores utilizados por alunos.
Para Denis Strum, diretor de Negócios da InfraDigital da Infracommerce, não haverá substituição de profissionais, apenas a junção entre máquinas e humanos. “Pessoalmente, acredito que estamos vivendo o nascimento de diversas novas tecnologias disruptivas que estão vindo para ficar, mas que ainda estão muito longe de substituir a singularidade do intelecto humano”, afirma o profissional.
Muitas empresas têm procurado unir a tecnologia ao capital humano da empresa para se beneficiar no engajamento de blogs, sites e redes sociais. Strum, afirma que nas empresas a AI é aliada, “já nos apropriamos da IA para aperfeiçoar nossas entregas. Estamos testando como a inteligência artificial pode nos ajudar a encontrar caminhos para aplicar melhorias em táticas de SEO. Assim, podemos conseguir desenvolver sites, blogs, posts e outros conteúdos digitais”, lembra.
Outro cético com essa tecnologia é Yann LeCun que comanda a área de IA da Meta, dona do Facebook, que detonou o produto da OpenAI dizendo, numa coletiva à imprensa na semana passada, que ele não tem nada de inovador e usa tecnologias antigas mascaradas de novas. LeCun afirmou que a inovação veio do Transformer, que atua com rede neural de linguagem e lançado em 2017 pelo Google, sendo hoje a base e sistemas de IA como o ChatGPT. Mas o ChatGPT não será um novo Google, na opinião do próprio CEO da OpenAI, Sam Altman. Não veio para substituir mecanismos de buscas. Ele pensa mais longe….
O ChatGPT pode não ser um mecanismo de buscas, como o Google, ele não entrega uma relação e links ao ser acionado e sim um texto final pronto. De qualquer forma, ele buscou as informações na própria internet.
Uso no jornalismo
O ChatCPT fará todo o trabalho de jornalistas? Talvez em parte. Por enquanto, em textos mais simples. A Plataforma Buzz Feed anunciou que utilizará o sistema para produzir conteúdo. Para Jenna Burrell, diretora de pesquisa do Data & Society, que pesquisa o assunto, a tecnologia não irá substituir o jornalista, mas pode ajudar o trabalho das redações de buscar contextos e informações complementares para matérias, e até dar uma forcinha para reforçar as perguntas para algum entrevistado.
O assunto também tem mexido com o pessoal de comunicação corporativa. “A inteligência artificial generativa que pode beneficiar a parceria homem-máquina com infinitas possibilidades. As corporações terão que entender a profundidade da IA e as aplicações em cada ação de comunicação e de relações públicas”, destaca Patrícia Marins, sócia-diretora da Oficina Consultoria, que faz atua com reputação, relacionamento e comunicação integrada.