Veículos de comunicação de favelas ampliam presença no cenário nacional

Comunicação comunitária busca discutir problemas locais, mostrar os talentos individuais, boas ações coletivas e propor soluções de melhorias. E representam um potencial de consumo

A comunicação comunitária em favelas entra numa nova fase, onde seus organizadores querem maior visibilidade entre os setores de comunicação de governo e empresas, em busca de reconhecimento e inserção nas verbas publicitárias oficiais e nas de organizações privadas. A Favela Holding, grupo de empresas criado por Celso Athayde com o objetivo de desenvolver as favelas e os seus moradores, vai repetir a Expo Favela, este ano em março, na capital paulista. A ideia é colocar a capilaridade do grupo em prol de uma maior difusão de uma agenda positiva das favelas brasileiras. Depois, esse evento deve se repetir em todos os estados para alavancar veículos de favelas, periferias e temáticas afro. Não são apenas as atividades da Favela Holding que estarão presentes, outros veículos de comunicação comunitários também poderão participar. A iniciativa tem a parceria da Central Única de Favelas (Cufa).

Celso Athayde

“A mídia comunitária é muito forte. Tem gente fazendo jornalismo periférico com muita qualidade por esse Brasil afora. Essa missão surgiu na Expo do ano passado entre os debatedores do tema no palco do evento. Estamos apenas aplicando e criando um grande banco de dados para ser entregues a todos os governos e empresas para entrar em contato diretamente com esses veículos”, explicou o CEO da Favela Holding e idealizador da Expo Favela.

Elaine Caccavo, diretora da InFavela, afirma que “a finalidade é apresentar para os órgãos governamentais e grandes empresas o trabalho das mídias periféricas, aproximando, então, essas instituições ao público com o qual esses veículos se comunicam”. E assim, gerar oportunidades na comunicação pública para profissionais negros e periféricos.

A ministra Simone Tebet, com Preto Zé

“Existem nas favelas uma gama enorme de veículos, formas e ferramentas de comunicação. São canais, portais, podcasts e toda uma diversidade feita por micros influenciadores que conseguem fazer uma comunicação direta com credibilidade e linguagem acessível. A ideia da Favela Holding, em parceria com a Cufa, é fazer um grande cadastramento e, diante das empresas e governos que temos acesso, possibilitar o fortalecimento desses veículos e o seu protagonismo. colocá-los em um lugar onde os setores privado e público possam manter um diálogo direto nas favelas por meio desses veículos que são os originais embaixadores da comunicação desses territórios”, frisa Preto Zezé, presidente nacional da Cufa.

A Expo Favela teve uma primeira edição no ano passado, e conta com um esforço coordenado na criação de um grande banco de dados entregues a governos municipais, estaduais e federal, e empresas para estimular o contato entre eles, e gerar apoios financeiros.

Cufa tem sede em São Paulo e agora um escritório em Brasília

Preto Zezé tem se movimentando também em gabinetes oficiais para temas mais amplos, não apenas a comunicação comunitária.  Wellington Dias, ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome do Brasil, se reuniu com o  presidente da Cufa em um diálogo direto para integrar a área social e desenvolver o potencial econômico dos territórios de favelas. Outro encontro ocorreu com Simone Tebet, ministra do Planejamento e Orçamento, para conversar sobre a participação da favela no planejamento e no orçamento das políticas públicas. “Discutimos inovação na participação social na elaboração do Plano Plurianual, como integrar projetos estruturantes e como incorporar as agendas das favelas na política pública de Estado”. Outros encontros com entes públicos aconteceram no Ceará e na Bahia. A Cufa inaugurou ainda um escritório em Brasília.

 A força do jornalismo comunitário

O jornalismo periférico esteve na pauta do 4º Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário, realizado no final de 2021 pela Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e a  Plataforma Negócios da Comunicação. Participaram nas discussões o prof. Giuliano Tonasso Galli, Coordenador de Jornalismo e Liberdade de Expressão do Instituto Vladimir Herzog, autor de um estudo sobre jornalismo comunitário nas periferias do Brasil;  Carlos Antonio de Jesus Santos, o Inho, jornalista e administrador do Jornal Comunitário Bairro da Paz, de Salvador (BA); e Paulo Almeida Filho, editor da ANF- Agência de Notícias das Favelas, reconhecida como  a primeira agência de favelas do mundo.

Para Galli, as comunidades são retratadas de forma estigmatizada pela grande imprensa, ignorando a diversidade dessa população e sua riqueza cultural. Entretanto, com a tecnologia, os veículos de comunicação comunitária conseguem agora atingir milhões de pessoas. “Quando falamos de jornalismo no Brasil, não tem mais como ignorarmos a relevância e o impacto do jornalismo comunitário”, desta o professor.

Inho atesta a dificuldade de se produzir um jornal comunitário periférico, atuando com poucos recursos. O lado positivo desse desafio, ainda segundo o jornalista, é que “a comunidade reconhece o nosso trabalho como defensor de suas reivindicações”. A comunidade que pauta os assuntos, diz.

Paulo confirma que o jornalismo periférico tem um papel de representatividade. “Quebramos estereótipos da mídia hegemônica, e colocamos o morador das favelas nas pautas. A representatividade é mais importante do que os likes”. A ANF com representação até no Norte e Nordeste atua com sites e redes sociais. “O jornalismo comunitário e periférico tem tido uma ascensão devido a essa representatividade”.

O próximo Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário e o Fórum de Jornalismo Especializado acontecem de 20 a 23 de março deste ano, em evento online e gratuito.

O poder dos creators em comunidades

O assunto comunidade também foi discutido no painel “O Poder da Favelas“, durante o 11º Fórum sobre Marketing de Influência, promovido pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e a Plataforma Negócios da Comunicação, em outubro de 2022. Foi enfocado como os creators da periferia tem conquistado seu lugar nas trends. Guilherme Pierri, coCEO da Digital Favela, maior empresa de influenciadores de favelas do mundo. Ele atesta que conseguiu cadastrar 7 mil influenciadores que atuam em favelas, alguns deles fazendo parte do time administrado por sua empresa. Mas admite que as marcas tem uma atuação pouco constante com esse público, realidade que está mudando: “As marcas já perceberam a força das favelas em suas campanhas, mas quando as coisas ficam nebulosas elas retornam para sua zona de conforto, sempre os mesmos influenciadores e sem entender direito como funciona o universo das quebradas”. E recomenda fortemente esse nicho para as marcas: “São pessoas muito potentes, que falam com autoridade muito grande, legitimidade muito grande para seu publico”.

Para Guilherme, o ramo dos creators está retomando a autoestima da favela e, mais que isso, trazendo uma nova fonte de trabalho e receitas. E estima que já trabalhou com mais  de 200 marcas em projetos nas comunidades.

O 12º Fórum de Marketing de Influência e o 5º Prêmio Influenciadores Digitais acontecem no dia 11 de março, em evento online e gratuito.

 

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