Em 2022 a indústria da tecnologia foi atingida em cheio pela crise econômica. Com as demissões em massas nas maiores empresas de tecnologias do mundo, segundo levantamento de sites estrangeiros, grandes big techs demitiram mais de 45 mil colaboradores este ano.
As gigantes e multibilionárias das redes como Facebook, através da Meta, Twitter, Alphabet, do Google, e multinacionais da tecnologia como Apple, Amazon e Microsoft demitiram mais de 10 mil funcionários e algumas anunciaram pausas nas contrações até melhora do mercado.
Segundo o site Layoffs.fy, que monitora demissões de grandes empresas desde o início da pandemia da Covid-19, a Meta e a Amazon foram as empresas que mais demitiram funcionários. A empresa dona do Instagram e WhatsApp, que em dezembro do ano passado tinha 71.970 colaboradores, demitiu 11 mil funcionários, ou 13% da sua força de trabalho. A Amazon, de Jeff Bezos, o segundo homem mais rico do mundo, demitiu 10 mil funcionários de cargos corporativos e de tecnologias, o que corresponde a apenas 3% dos seus funcionários.
O Twitter, após Elon Musk adquirir a companhia, demitiu 50% de sua equipe — boa parte de talentosos profissionais agora indo para empresas concorrentes — porque, segundo o novo controlador, a empresa estaria perdendo US$ 4 milhões por dia. E as coisas para o milionário devem piorar nessa plataforma, pois sua política declarada e relaxar a moderação de conteúdo, colocando lenha na fogueira das fake news e do discurso de ódio, fez com que grandes anunciantes declarasse que irão sair da plataforma. Na verdade, um verdadeiro boicote publicitário, já em curso.
Apesar dos cortes, muitas dessas demissões não são apenas por questões financeiras ou passageiras. Diversos grupos de mídia não têm se adaptado ao novo modelo de trabalho, cada vez mais enxuto e com funcionários fazendo mais de uma função e ainda muitos trabalhando em home office; além disso, diversas empresas têm sofrido com a crise financeira causada pela pandemia, pela guerra da Ucrânia e devido a inflação que vem atingindo países ricos e, consequentemente. diminuindo a receita das empresas.
Incertezas no mercado das big techs veio para ficar
No terceiro trimestre de 2022 o lucro da Meta caiu pela metade, segundo o balanço divulgado pela empresa. O rendimento bruto neste ano é estimado em U$ 4,4 bilhões. No ano passado a empresa obteve lucro líquido de U$39,3 bilhões, o que representa uma queda de mais de 50% nos rendimentos.
A Microsoft obteve receita de U$50 bilhões, alta de 11% em relação ao ano anterior, porém o lucro líquido da empresa foi de cerca U$17 bilhões, queda de 14%, em 2021 a empresa obteve 20 bilhões de dólares de lucro líquido entre julho e setembro. A Amazon, que obteve lucro líquido de 19 bilhões de dólares durante os primeiros nove meses de 2021, segue pelo mesmo caminho e anunciou que não terá novas contrações pelos próximos meses.
O aplicativo TikTok, o mais baixado no mundo, também vem se preparando para as mudanças do mercado. A receita estimada da empresa chinesa, que era de U$14 bilhões, foi readequada para 10 bilhões de dólares. A empresa também estuda fazer readequação salarial em vários departamentos.
Para a especialista em marketing digital e head comercial da WSI, Rita Sampaio Figueiredo, o mercado está se preparando para o novo modelo, com inflação global e o retorno das pessoas a um mundo não tão conectado como foi durante os dois anos de auge da pandemia. “O aumento da taxa de juros e a inflação interferem no mercado como um todo e as big techs não ficam de fora desse processo. Ainda que as empresas busquem se adaptar a novos cenários, o mercado online continua em alta e é o negócio do momento”.
Rita ressalta ainda que todo o mercado está buscando novos caminhos no pós-pandemia que visem novos cenários. Ainda que as empresas busquem se adaptar a novos cenários, o mercado online continua em alta e é o negócio do momento “O mercado é influenciado por uma série de fatores, mas o comércio online e o marketing digital são fundamentais para quem quer manter e ampliar seu negócio”, afirma a head.
Contratações durante a pandemia e demissões pós-Covid
Outro ponto levantado por especialistas foi o grande número de contrações em 2020 em razão da pandemia. Empresas de comunicação tiveram que se adaptar, não apenas às novas demandas da Comunicação online, mas empresas de e-commerce como a Amazon foram beneficiadas pelas compras online.
A especialista em negócios e carreiras da Provider Solutions, Marynês Freixo Pereira, afirma que a crise do meio começa quando as empresas optam contratar muitos funcionários durante a pandemia para suprir a necessidade do momento, porém o pós chegou. “As startups e empresas de tecnologias precisam suprir uma demanda rápida. E para suprir essa necessidade muitas empresas contratam pessoal sem treinamento adequado”, afirma. Porém, quando não há mais necessidade dos funcionários, as empresas demitem, e segundo a especialista, diante da crise financeira a medida é vista como necessária pelas companhias.
Marynês ressalta que as empresas também optam por inteligência artificial por ser muitas vez uma “mão de obra” mais barata, e pela capacidade de adaptação das máquinas. “As empresas contrataram muita gente, mas também eles demitiram, substituindo funcionários por robôs e inteligência artificial, que pode ser mais barato”. Este foi o caso da Amazon, Walmart, e Shutterfly que substituíram a força de trabalho humana por máquinas para “elevar a produtividade”.
Demissões mostram a desigualdade estrutural
A especialista em Diversidade e Inclusão e professora da PUC Rio, Beatriz Santa Rita, aponta que geralmente mulheres e negros são os mais atingidos pelas demissões. Beatriz afirma que por mais que demissões aconteçam em todas as empresas e ramos, há um grupo preferencial diante dos cortes: “A crise chega para todo mundo, mas em um contexto de desigualdade estrutural como a desigualdade de gênero no mercado de trabalho sabemos que esse é o grupo preferencial nos cortes”.