Seja pessoalmente ou por ferramentas digitais, gestores e colaboradores transformaram a maneira de trocar informações. A implantação do trabalho remoto ou híbrido auxiliou no crescimento do investimento em ferramentas e canais online, para trazer humanização e promover engajamento nas empresas.
Em muitas empresas, houve pesquisa e levantamento antes da implantação desses modelos, mas ainda assim, há relatos de insatisfação. A especialista em comunicação corporativa e fundadora da consultoria VRS Academy Vivian Rio Stella fala sobre a importância da comunicação nesses casos e as transformações na troca de informação.
O que o crescimento do trabalho remoto ou híbrido significa para a comunicação? Quais adaptações devem ser feitas na maneira em que a companhia se comunica com os colaboradores para atender a esses modelos e garantir o engajamento?
O crescimento do trabalho remoto ou híbrido tem um impacto grande para a comunicação porque as empresas tiveram que investir em ferramentas, em canais de comunicação, para trazer humanização, para promover engajamento, para, mesmo à distância, as pessoas se sentirem parte da organização, vivenciarem a cultura da organização. Em muitas empresas, para a implantação do formato híbrido, houve pesquisa, levantamento para saber o modelo ideal. Ainda assim, a gente vê, pelas pesquisas mais recentes, que nem todo mundo está satisfeito com a gestão híbrida e com a gestão remota. Isso tem muito a ver com um trabalho de competências, de autogerenciamento, de protagonismo, que muitas vezes as empresas falavam, mas não vivenciavam, e que agora precisam que as pessoas vivenciem. As empresas precisam capacitar as pessoas para isso. E a comunicação é uma dessas habilidades, para não continuar perpetuando o modelo de comando e controle, o modelo de feudos, em que as áreas não conversam entre si. É preciso fazer gestão do conhecimento usando os canais de comunicação, as ferramentas de interação, para ter documentados os processos, o que está acontecendo, sem depender somente de ligações e reuniões. Há bastante impacto.
Pode-se dizer que as ferramentas online de comunicação são aliadas? Em que situações o uso dessas ferramentas pode atrapalhar mais do que ajudar?
Ferramentas online sem dúvida são aliadas. Os canais de comunicação são grandes aliados para aproximar quem está longe, propiciar a gestão remota e híbrida. Ao mesmo tempo, demanda que as lideranças estabeleçam acordos mais frequentes, deixem mais claros os objetivos, os prazos, os valores, não só no discurso, mas na prática, na ação, no dia a dia. Então, ferramentas online de comunicação têm, sim, uma grande finalidade. O que pode atrapalhar são habilidades de liderança, que nem sempre as pessoas já tinham desenvolvidas e se deparam com elas. Como é que eu peço, como é que delego sem delargar, como é que peço sem mandar, como é que mostro a urgência, como é que realmente propicio colaboração e não só faço junto e entrego. Então as ferramentas online não podem ser encaradas como um problema. Mas é o modo como usamos essas ferramentas que pode ser eficaz ou ineficaz.
Nesse cenário remoto de maior colaboração, corresponsabilidade e autonomia, o que você aponta como maior vantagem tanto para os colaboradores quanto para a empresa? A cultura de aprendizagem foi instaurada?
As vantagens são maior flexibilização, espaço e tempo de trabalho. As pessoas conseguem negociar os horários de acordo com a realidade de cada companhia ou de cada modelo de negócio. Também conseguem ter mais vozes ouvidas, há maior diversidade, pluralidade de vozes, não apenas porta-vozes, altíssimas lideranças falando e manifestando suas ideias. As pessoas conseguem ter mais autenticidade, são mais valorizadas hoje em dia. Não se escondem mais atrás do nome da empresa, mas são quem são com o nome da empresa. Essas são as grandes vantagens. A cultura de aprendizagem está sendo transformada. Antes a gente tinha um modelo ainda muito pautado por universidades corporativas, em que o RH, o treinamento faziam a definição dos objetivos e dos temas e competências a serem trabalhados, de acordo com a carreira. Hoje estamos vendo um movimento de mais aprendizagem autodirigida, mais pessoas participando dessa construção dos cursos, das vivências, muitas rodas de conversas. Há muitos formatos inovadores hoje em dia, plataformas de aprendizagem também. A cultura de aprendizagem vem sendo reconhecida como necessidade, mas ainda precisamos ter mais alguns ganhos, como a aprendizagem fazer parte do horário de trabalho, as pessoas não acharem que é um problema estar num treinamento ou as pessoas realmente atuarem mais na construção dos temas, habilidades que precisam desenvolver, e não o RH, o treinamento serem a curadoria desses temas. Ainda há caminhos para instaurar uma cultura de aprendizagem mais corresponsável, autônoma e colaborativa.
Falando em diversidade, inclusão, sustentabilidade e responsabilidade, o que você acredita que amplificou essas pautas no ambiente corporativo e transformou a comunicação?
As discussões sobre inclusão, equidade, essa pauta da sustentabilidade, da emergência climática, tudo isso está muito em evidência na sociedade e nas empresas, e nas empresas e na sociedade, a gente não sabe bem o caminho como foi. Mas as empresas perceberam que, para engajar seus colaboradores, precisam ter atitudes responsáveis, precisam trabalhar com inclusão e diversidade, porque, se não, não há inovação, não é um lugar em que as pessoas querem trabalhar, onde se sentem vistas e valorizadas como alguém que elas são e não simplesmente como uma engrenagem nessa empresa. Acho que essa analogia da engrenagem já não funciona mais. Essa questão de responsabilidade é muito sobre como a empresa se coloca no mercado, como adere às pautas sociais, como não é apenas um agente lucrativo, mas também se preocupa com o entorno. Isso tem muito a ver com as áreas de comunicação atuando fortemente, olhando para essa marca empregadora, olhando para a reputação. São dois grandes temas importantes para essa discussão.