No século XXI, o século da pós-verdade, em que algumas pessoas creem que os fatos podem ser relativos, a disseminação de conteúdo falso traz grandes desafios à vida em sociedade. A partir desse cenário, no Brasil e no mundo multiplicam-se entidades cujo propósito é o de criar ferramentas de checagem de fatos e lutar por dados abertos.
Para jogar luz sobre este assunto, participaram no painel Todos contra o fake: Dados, algoritmos e fact-checking na batalha política contra as notícias falsas Gilberto Scofield Junior, diretor de Estratégias e Negócios da Agência Lupa, um hub de combate à desinformação, e José Lázaro Ferreira, sócio-fundador da agência de notícias Livre.jor, no 3º Fórum de Jornalismo Especializado, promovido pela plataforma Negócios da Comunicação. O bate-papo contou com mediação de José Antonio Lima, professor da pós-graduação de Jornalismo da Cásper Líbero.
Os desafios
“Temos dois grande desafios”, pontuou Samir. “Acelerar o processo de checagem, porque ele obedece a uma metodologia científica que não combina com o tempo da desinformação, e multiplicar as fontes de checagem no Brasil, que são ainda insuficientes pela quantidade de conteúdo produzido.” Ele estima em duzentas ou trezentas pessoas no Brasil todo que se dedicam à checagem de fatos, sem contar a tentativa de desqualificação da ciência por trás das ciências humanas. “Não é só a NASA que faz ciência.”
Além disso, há também o desafio de desenvolver na população o pensamento crítico, para que as pessoas entendam como se consome conteúdo jornalístico e midiático. “A entrada das redes sociais embaralhou esse meio”, explica. “A bandeira do letramento digital e midiático tem de ser uma bandeira política.”
Um desses reflexos é a não percepção pelas pessoas de que todo o conteúdo visto por elas em redes sociais é mediado por algoritmos, robôs, e que elas estão vendo apenas um recorte. E isso leva a distorções importantes na própria democracia.
Cultura de dados abertos e Lei de Acesso à Informação (LAI)
A Lei de Acesso à Informação (LAI), sancionada em 2011, produziu avanços no contato de profissionais e de cidadãos com dados que, muita vezes, ficariam encriptados pelo governo conforme sua conveniência. Mas ainda há desafios que ultrapassam criação de entidades de combate às fake news. “Não adianta eu ter checadores se o governo esconde dados, por exemplo”, comenta José Lázaro Ferreira, da Livre.jor. “A cultura de dados abertos também precisa estar consolidada.”
Ele lembra que, no Brasil, há muitos recursos de acesso à informação que parecem ter sido atendidos, mas não o foram efetivamente. “O governo performa que faz, mas a entrega dos dados é muito menos real do que aparenta ser. Isso é muito sério”, diz. “Cada ministério deveria ter um plano de dados abertos, mas, para se ter uma ideia, o Ministério da Saúde, no meio da pandemia, não tem um plano de dados abertos.”
Educação midiática
Gilberto Scofield considera que essa forma de lidar com a coisa pública se enraiza mais profundamente na própria mentalidade do governo de plantão. “Eles são servidores públicos, ou seja, estão lá para servir. Há uma falta de sensibilidade de que se está administrando o dinheiro público, e que eles devem satisfação às pessoas”, anota.
Não há caminho individual. Além do aumento de velocidade nas checagens e na criação de programas de educação midiática, José Lázaro acredita que a união das agências pode fazer muito pela checagem no Brasil. “Algo importante que estamos fazendo ultimamente é reunir as entidades e ir à Justiça requerer as informações”, diz. “Precisamos nos articular em grupo para ir atrás desses dados abertos.”
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