#FJRC | “O que caracteriza a mídia regional é a identidade”

Jornalistas debatem sobre o diferencial da cobertura regional e contam estratégias para manter a relevância

Proximidade foi a palavra-chave do terceiro painel da segunda edição do Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário, que aconteceu no dia 3 de setembro, no Unibes Cultural. O tema “A comunicação regional: Voz ao Cidadão do Interior” foi debatido por convidados especialistas em levar informação para as diversas regiões do interior, que provaram a força que a comunicação tem quando traz, além da informação, a identificação do leitor.

“Existem duas formas de proximidade nos veículos do interior. A primeira é a física e nós trabalhamos isso como uma verdadeira fortaleza. Porém, o laço maior é o trabalho sério, a confiança. Unindo o trabalho sério com a proximidade física, temos uma grande força”, afirmou João Jabbour, diretor de redação do Grupo Cidade – que comporta Jornal da Cidade de Bauru, JCNet e a rádio 96FM.

Para Jabbour, o momento atual, a era da tecnologia, cria um dos grandes desafios de manter essa proximidade. Para não “perder” espaço, é preciso haver um esforço constante trabalhando pelo conteúdo de qualidade e utilizando as ferramentas disponíveis a favor da aproximação com o leitor.
É o que faz a TV Tem, representada no FJRC pela jornalista Aline Origuela, que desenvolveu um projeto para ouvir o que têm a dizer os cidadãos. “Nós temos um projeto que chama Bairro Ideal, que consiste em uma van que vai até os bairros e busca saber diretamente da população o que há de mais importante para ser resolvido ali”, explica.

A equipe de produção fica de um a dois meses indo diariamente a um bairro para criar uma relação com os moradores e, assim, descobrir o que pode ser noticiado. Além das principais questões que vêm à tona, há também um leque de possibilidades de pautas que vai se abrindo com o tempo.
De acordo com Aline, grande parte da responsabilidade do jornal regional é ter a postura de cobrar as autoridades em nome do leitor, mas também trazer as respostas que a população espera. “O laço está na cobrança e nas respostas que a população recebe”.

Com o mesmo pensamento, Jabbour conta que foi criado um espaço para receber as pessoas dentro da redação, com o objetivo de fomentar debates, troca de informações e o encontro entre o leitor e seus representantes na comunicação. “Café com política” é um “espaço democrático para propiciar a criação destes tão importantes laços”, pondera o diretor.

O mesmo acontece com a secretaria de Comunicação do Governo, como explica Cleber Mata. “Trabalhamos com a tecnologia como uma aliada para nós. A gente inaugurou um estúdio multimídia que permite que um secretário de estado se comunique com outros sem precisar se locomover até o local, apenas usando a internet. E não é chapa-branca, eles sabem que é para usar o nosso estúdio para sabatinas, para questionar. Nisso, a tecnologia nos aproxima”.

De olho no interior

Mata afirmou também que a secretaria está ciente da importância e relevância dos veículos do interior e, por isso, reativou o núcleo de comunicação que lida exclusivamente com os profissionais dessa região. “Fizemos isso levando em conta a importância dessa cobertura. Temos jornalistas sérios trabalhando nas cidades do interior. Se queremos falar com alguém de Jundiaí, Presidente Prudente, Sorocaba, temos esse contato direto e de confiança”, explica, lembrando que, atualmente, somadas todas as grandes emissoras brasileiras, há cerca de 30 filiais representando as pautas da região interiorana. “O que caracteriza a mídia regional é a identidade. O cara quer ver a sogra dele na coluna social. Isso não é feio, tem relevância. A comunicação pode ter crises, mas há sempre demanda por informação”.

Prova dessa crescente é a história do Jornal da Região, de Jundiaí, que nasceu para atender apenas a região e três anos depois de sua criação já estava chegando a 16 cidades, com uma tiragem de 16 mil exemplares por semana, com distribuição gratuita. “Pode parecer uma tiragem pequena, mas é bem significativa”, explica Aline Pagnan, jornalista do veículo.

“Fizemos o caminho oposto de outros veículos que fecharam as portas nos últimos anos, enquanto nós crescemos. Nascemos em 2010 como um jornal apenas da região e, em três anos, atingimos a marca de 16 cidades, com uma tiragem de 16 mil exemplares por semana, que pode parecer pouca, mas é bem significativa”.

“A gente sente a busca do leitor pela informação. E principalmente jovem! Não sei te explicar o que acontece, mas nesses 10 anos de jornal, vemos um bom retorno”, afirma. Aline destaca uma matéria como exemplo do engajamento do veículo nas redes. A reportagem mostrava o caso de uma região na qual havia limões jogados na rua com pregos presos, para furar pneus, machucar pessoas, causar assaltos, entre outras coisas.

Segundo ela, a matéria teve, 20 minutos depois de ser publicada, 86 mil compartilhamentos. No Facebook, o Jornal da Região acumula 223 mil seguidores, onde possui a presença mais forte, e soma 40 mil views no site por dia. De acordo com Aline, eles respondem todos os comentários possíveis. “A gente sempre se propôs a responder o leitor, porque é ele quem comanda o que a gente posta. Esse laço é importante e é a cara do jornal de interior. Se você dá atenção ao leitor, ele te dá a confiança em troca”, conta.

Atendimento ao leitor parece ser mais um dos grandes segredos dos jornais regionais, como explica Jabbour, do Grupo Cidade. Com base no nosso feeling, sempre trabalhamos para manter o laço com o leitor. “Temos um ideal no Grupo que é: atendemos a todos que nos procuram, mesmo que tivermos que dizer ‘não’, que seja um ‘não’ educado, fazendo a pessoa se sentir valorizada. Os jornais funcionam como termômetros das cidades. As pessoas buscam a confirmação de que estão sendo vistas e atendidas. Nossos veículos são um porto seguro”.

Rentabilizar a informação

A coluna social Pop Bauru tem apresentado uma demanda alta, conta Jabbour. Nela, é feito o chamado branded content: os jornalistas cobrem um evento social e essa cobertura é paga pelo responsável pelo evento. “Muita gente gosta de se ver no jornal e isso, claro, reforça nosso caixa”, explica, dizendo que a seção foi criada após ser feita uma pesquisa que apontou o interesse dos usuários de redes sociais em se auto-afirmar e ser protagonistas de algo.
Aline Origuela, da TV Tem, enxerga a questão comercial como mais um fator atrelada à relação de confiança. “O lucro vem da credibilidade”, afirma. Para ela, quanto mais relevante é o conteúdo, maior será o seu consumo e, portanto, o investimento em sua produção.

Cleber Mata reforça a importância da rentabilização da comunicação. Para ele, manter a relevância dos regionais só é possível se os veículos passaram a oferecer algo a mais do que apenas a informação. Como exemplo, ele cita a parceria entre UOL e o Pag Seguro. “O leitor quer aquilo que vem ‘depois da vírgula’, ou seja, aquela oferta a mais que ele pode escolher consumir ou não, mas que acha positivo que exista opção”, analisa.

Já Aline afirma que, por se tratar de uma publicação comunitária, o Jornal da Região tem distribuição gratuita, sem necessariamente visar lucro com publicidade. Para ela, o investimento feito na relação com o cliente apresenta um retorno bastante positivo para o jornal. “Temos um contato tão estreito com leitores que, sete anos depois do nosso crescimento, sabemos quais são aqueles leitores de confiança, que sempre trazem informação que procede. Só de o leitor ter o retorno do jornal ele se sente privilegiado, como parte do jornal. O que é um perfil totalmente diferente de grandes cidades”, avalia.

Voz ao cidadão

Aproveitando o boom das redes sociais e o grande índice de engajamento, o Jornal da Região investe no monitoramento dos comentários e busca otimizar a experiência do usuário, deixando informações pontuais com fácil acesso e prontamente solucionando dúvidas e orientando o leitor.

João Jabbour, do Grupo Cidade, vê no espaço digital uma nova possibilidade de dar voz aos cidadãos. “Hoje em dia não há mais a praça pública de fato, por conta da violência e outros fatores. Portanto, trabalhamos para que os jornais – e as redes sociais – sejam as novas praças públicas, onde há discussão. Ali é onde se exercita tudo o que há de valor sagrado no relacionamento humano”, conclui.

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