ANAPAULA.ZIP

Zip é um dos formatos mais populares de compactação de arquivos na internet e também uma maneira de definir a atuação tão plural de Ana Paula Padrão. Atualmente é possível ver, ouvir, ler e aprender com ela. Em tempos de mudança no universo da comunicação, ela se destaca pela coragem em inovar e costurar diversas habilidades na narrativa de sua carreira. O empreendedorismo a levou a deixar a bancada do Jornal Nacional, na rede Globo, em 2005, e abrir novos horizontes, quando migrou para o SBT, no mesmo ano, abrindo sua produtora Padrão Mundell entrevista. Seja no impresso, no digital ou na TV, Ana Paula Padrão concilia as habilidades de jornalista, apresentadora e empresária e fixa o modelo do profissional de comunicação dos novos tempos — cujo conteúdo jornalístico era adquirido pela emissora. Depois, esteve à frente da bancada do Jornal da Record e, finalmente, deu outra guinada em sua trajetória, ao tornar-se apresentadora do reality show culinário MasterChef, na Band, um dos programas de maior audiência na emissora e fenômeno de engajamento nas redes sociais.

“Sempre quis empreender e não depender de uma única corporação de mídia, ao contrário de muitos colegas que buscavam uma carreira sólida numa empresa de comunicação”, explica. Essa vontade unida ao trabalho de empoderar mulheres por meio do conhecimento também gerou a “Escola de Você”, em parceria com a também jornalista Natalia Leite. Criada em 2014, hoje contabiliza 300 mil alunas e são oferecidos cursos online, 100% gratuitos, voltados ao autoconhecimento, empoderamento e empreendedorismo, com o objetivo de construir uma rede de sororidade. Além da promoção de eventos especiais e cursos gratuitos, a preços econômicos, para aquelas que desejam se aprofundar.

“O jornalismo cresce quando fala de pessoas e não de situações. A grande qualidade de um bom jornalista é ser um bom contador de histórias. E o jornalismo que sabe fazer isso sempre terá seu lugar”

Desafio no impresso: desde agosto, Ana Paula está a frente da redação da revista CLAUDIA

Para quem achava que ela havia “abandonado” o jornalismo, em 2016 ela estreou o “Conexão com The NewYork Times”, pela BandNews, com reportagens baseadas nas produções de vídeo deste que é um dos jornais mais prestigiados do mundo, o que simbolizou um acordo inédito com o conglomerado de mídia americano. E Ana Paula não para: em 2017 foi o momento de outro desafio. Após quase 30 anos de telejornalismo, ela aceitou o convite para se tornar diretora de redação da revista CLAUDIA, da Editora Abril, que recentemente passou por uma reformulação, com o lançamento da campanha #eutenhodireito, com o objetivo de fomentar o movimento do feminismo e o empoderamento da mulher.

Ana Paula não só mostra que tem o direito de controlar sua atuação, em diferentes veículos e meios, mas expõe a amplitude do que é ser um jornalista nos tempos atuais. E a veia pelo jornalismo de qualidade continua pulsando forte; ela acaba de estrear a segunda temporada do anapaulapadrao.doc, série de reportagens especiais que abordaram temas como redes sociais, longevidade e barriga de aluguel, contando casos de diferentes lugares do mundo. “A grande qualidade de um bom jornalista é ser um bom contador de histórias. Por isso sempre gostei tanto da reportagem. Todos nós gostamos de uma boa história e o jornalismo que sabe fazer isso sempre terá seu lugar”, diz Ana Paula, que concedeu entrevista exclusiva à Negócios da Comunicação sobre seus projetos e o futuro do mercado de comunicação, ao qual ela tem sabido tão bem se adaptar.

Você representa o jornalismo dos novos tempos. Sua trajetória foi se formando de maneira consciente da pluralidade que seria exigida dos jornalistas?
Difícil responder a essa sua pergunta de uma maneira definitiva. Claro que eu não premeditei, quando dei os primeiros passos nessa direção, o que aconteceria com o mercado do jornalismo. Mas meu radar — ou seria minha inquietude?— me empurravam nessa direção. Sempre quis empreender e não depender de uma única corporação de mídia, ao contrário de muitos colegas que buscavam uma carreira sólida numa empresa de comunicação. Acho que fui seguindo meu desejo e aproveitando oportunidades que foram surgindo porque sempre estive, de alguma maneira, aberta a elas.

Além do MasterChef, há também o Conexão com The New York Times, a CLAUDIA e empreendimentos pessoais. Como é a sua rotina de trabalho e seu envolvimento nos projetos?
Não posso dizer que seja fácil, mas tenho uma boa capacidade de organização e de estabelecer prioridades. Não sou centralizadora e formo equipes eficientes, que me representam bem na administração das questões cotidianas. Me concentro em estratégias e relacionamento, além de reservar um espaço bem razoável para mim mesma. Isso me parece fundamental já que, quando você está cansada demais, acaba tomando
decisões erradas.

Como foi o processo de assumir a direção da redação da CLAUDIA?
Encantador. Nunca havia participado diretamente da elaboração de uma revista e assumir CLAUDIA e todas as plataformas associadas a uma marca feminina de tamanha envergadura representou um desafio imenso e muito sedutor.

Em um momento de cortes em redações,qual a estratégia para a CLAUDIA se manter relevante no meio editorial?
CLAUDIA tem um awareness impressionante, tem o posto de segunda maior revista em circulação no país, atrás apenas de Veja, o que facilitaria o trabalho de qualquer pessoa que assumisse a marca. As assinantes a adoram e o mercado tem um profundo carinho por ela. Muitas marcas importantes cresceram na esteira de CLAUDIA e são extremamente gratas por isso. O que precisei avaliar foi como tornar a marca, mais uma vez, relevante para todos os players. Editorialmente para a leitora e comercialmente para os anunciantes. Era preciso levar a marca CLAUDIA de volta para o jogo com um posicionamento novo. Hoje em dia, quem não se posiciona está morto. Esse tem sido o meu foco desde que assumi.

O movimento #eutenhodireito marca a sua chegada à CLAUDIA. Qual o objetivo do movimento e de que forma ele tem sido aceito e levado em frente pelas mulheres?
Na minha avaliação, era preciso estabelecer um posicionamento que fosse abrangente o suficiente para trazer para CLAUDIA todos os diversos clusters que representam a mulher nos dias de hoje. Não há uma única face que seja o espelho de todas as mulheres contemporâneas. A beleza de romper barreiras está nisso! E CLAUDIA fala com a maioria. Seria muito difícil representar todas as mulheres, mas acreditei que seria possível não melindrar a maioria. O #eutenhodireito tornou-se um conceito abraçado pelas mais diversas correntes justamente por dar a cada uma o direito de ser quem quiser. Não importa em qu ponto da curva você esteja. Você tem direito! Credito isso ao carinho com que estamos sendo tratadas nesse novo posicionamento. A hashtag foi instantaneamente compreendida, sem necessidade de explicações adicionais. Ela fala por si só. CLAUDIA não quer ser o barco e sim o farol!

O movimento #eutenhodireito marca a chegada de Ana Paula à revista: era preciso um
posicionamento que fosse abrangente o suficiente para trazer todos os diversos clusters

O movimento #eutenhodireito marca a chegada de Ana Paula à revista: era preciso um
posicionamento que fosse abrangente o suficiente para trazer todos os diversos clusters

Revistas femininas começaram a ser criticadas por pautas que reforçavam padrões e estereótipos. Como você encara esse desafio dentro da CLAUDIA?
CLAUDIA voltou para o jogo justamente por não desejar pautar o que as
mulheres podem ou não fazer. O que pretendemos é ter uma antena ampla o suficiente para captar esses movimentos antes e dar a eles visibilidade. CLAUDIA sempre esteve à frente do seu tempo por ter sido capaz de refletir movimentos que ainda não eram visíveis para a
sociedade, embora já tivessem força para provocar a mudança. O que queremos é ocupar esse lugar mais uma vez.

Qual o balanço das conquistas e dos desafios nesses primeiros meses na Abril?
Assumi em agosto quase como uma observadora, alguém que poderia analisar em que ponto a marca se encontrava naquele momento e traçar uma estratégia nova. Foi o que fiz. Estamos construindo o caminho. Muita coisa já mudou e, nas páginas da revista, na prioridade que vem sendo dada à plataforma digital e na relevância que estabelecemos para os eventos da marca isso já está bem claro. Ainda há um mundo de coisas a fazer mas já percebemos que o nosso recado foi dado e repercutiu bem. Estou longe de imaginar que o trabalho está feito mas fico satisfeita de ter encontrado o caminho.

Com uma carreira notória no jornalismo televisivo qual sua relação com o impresso? E como você avalia o futuro desse meio?
CLAUDIA não se limita ao impresso. CLAUDIA é uma marca forte em qualquer plataforma. Esse é o ponto fundamental da estratégia. CLAUDIA não pode ser uma revista, apenas. A revista é uma importante vitrine de tudo que a marca representa, mas a energia de CLAUDIA precisa ser reconhecida em outros espaços. Isso sempre esteve muito claro para mim e vai se refletir em ações de fato. Dito isso, estou adorando conhecer mais sobre o universo do impresso, tão lúdico. Tem sido uma incrível experiência. Aprendo todos os dias e uso a experiência acumulada em outras plataformas para impulsionar CLAUDIA em outras direções.

O MasterChef te aproximou do público diferentemente do que acontecia na bancada do jornal. No entanto, é possível observar cada vez mais esse movimento de personalização dos jornalistas como forma de engajar, principalmente por meio de lives e redes sociais. Como você tem observado esse movimento?
A neutralidade não existe. Nem no jornalismo nem em lugar algum. Cada um de nós carrega histórias próprias que contaminam nossa produção. Isso é bom. É saudável. O jornalista só se afasta de seu dever de ofício quando usa seu trabalho para alavancar uma posição, uma ideologia, uma marca ou produto de forma sub-reptícia. O MasterChef mudou meu publico, não minhas convicções. Hoje converso com pessoas mais jovens, que não me reconhecem como a jornalista da bancada e isso me fez aprender muita coisa nova sobre o relacionamento da pessoa pública, aquela que está no ar todos os dias, com quem consome entretenimento ou informação ou ambos. Minha forma de atuar mudou um pouco, embora eu ainda seja muito velha guarda no uso das incríveis ferramentas de comunicação de que dispomos hoje. Mas tudo bem, vou me adequando e gostando do novo.

Ao lado de Marina Person, as duas comandam o conteúdo audiovisual da parceria entre BandNews e NYT

Com o domínio de ferramentas como o Google e o Facebook, as pesquisas online acabam ficando sempre restritas às localidades. Qual o caminho para encontrar novidades e informações de qualidade?
Ter um pulso que não depende de pesquisa. Depende de vivência, experiência e intuição. Depende de observação diária dos movimentos sociais. O uso da #eutenhodireito é uma prova disso. Fizemos pesquisa para comprovar nossa percepção, não para desenvolvê- la. E, além disso, há ferramentas incríveis para o uso das pesquisas online que não dependem de Google e Facebook embora estes sejam parceiros muito relevantes.

O MasterChef mostrou a importância do engajamento do telespectador com o programa e vocês abraçaram isso em diversas ações nos últimos anos. Como você avalia a influência do público no conteúdo que é produzido?
No caso do MasterChef, que é um programa gravado com uma grande antecedência à sua exibição, as opiniões do público são pouco relevantes. O que carrega o programa é um formato amplamente testado em vários países, que funcionou aqui também. Mas, em programas ao vivo ou que são gravados com pequena antecedência, as reações do público são vitais para o direcionamento da produção. De qualquer maneira, acredito que, mais do que estar a serviço dos índices de audiência, o que um programa de TV tem de atender é a uma crescente necessidade de interatividade. O telespectador tem de participar, de alguma forma. Ele quer se ver no ar. Ele quer saber que estabeleceu uma conexão com o que está sendo mostrado — ele ou qualquer um que o represente. A interatividade, seja na TV, no impresso ou no rádio, é cada vez mais o ponto de partida, e não o de chegada.

Qual o desafio de manter o MasterChef em um formato atraente sem cansar o público?
Boa pergunta. Pensamos nisso desde a primeira edição e, a cada temporada, o engajamento nos surpreende. Acredito que o grande segredo está nas pessoas. Um casting incrivelmente bem feito, com personagens que representam cada telespectador de alguma maneira, mantém o programa vivo. A internet tem cada vez mais ditado as pautas dos outros veículos ao passo que as emissoras de televisão seguem investindo seus recursos em formatos de entretenimento, enquanto o jornalismo vem perdendo espaço nas grades.

Ao lado dos chefs Henrique Fogaça, Paola Carosella e Eric Jacquin, Ana Paula compõe o time do reality culinário MasterChef, no canal Bandeirantes — case de sucesso nas redes sociais

Ao lado dos chefs Henrique Fogaça, Paola Carosella e Eric Jacquin, Ana Paula compõe o time do reality culinário MasterChef, no canal Bandeirantes — case de sucesso nas redes sociais

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