Prêmio Audálio Dantas reconhece jornalistas que se destacaram nas trincheiras da imprensa

Premiação acontece há quatro anos em homenagem a Audálio, que se destacou na luta pela liberdade de imprensa e direitos humanos e foi diretor executivo da Negócios da Comunicação

O Prêmio Audálio Dantas foi entregue em cerimônia na Câmara Municipal de São Paulo. Em seu quarto ano de existência, a premiação é uma homenagem ao jornalista e escritor Audálio Dantas, falecido em 2018, e que busca reconhecer e premiar os profissionais da imprensa que se destacam por sua coragem, determinação e comprometimento na defesa da liberdade, da democracia e dos direitos humanos.

Leonardo Sakamoto

Este ano, o prêmio foi entregue a seis jornalistas de diferentes ocupações e veículos que se destacaram na cobertura jornalística. Entre eles, Leonardo Sakamoto, jornalista e colunista da TV Cultura e UOl, Ele foi premiado pelo trabalho na produção jornalística do Repórter Brasil, uma organização não governamental que denuncia violações de direitos humanos.  O jornalista lembrou durante a cerimônia que nos últimos anos a liberdade de imprensa e jornalistas vem sofrendo cada vez mais ataques: “Conhecemos pessoas que são mortas e ameaçadas em todo o Brasil. A nossa crise democrática não tem quatro anos, tem 500”.

Juliana Dal Piva

Além de Sakamoto, outros cinco profissionais foram premiados: a jornalista do UOl, Juliana Dal PivaValmir Salaro, que atua na TV Globo e produziu o documentário sobre o caso da Escola Base; Bruno Paes Manso, jornalistas e escritor; René Silva, jornalista e criador do jornal A Voz da Comunidade e o apresentador e humorista, Gregório Duvivier. Representando Gregório, que não pode estar no evento, recebeu o prêmio o jornalista Denis Russo, editor chefe do programa.

Valmir Salaro destacou que o prêmio tem grande importância por Audálio ser um dos grandes nomes do jornalismo e ser uma referência profissional: “Eu me espelhava nele porque ele começou da mesma forma que eu”, conta.

Juliana Dal Piva, disse que o prêmio tem um valor especial por homenagear o jornalista Audálio Dantas. “Esse prêmio representa muita gente. O troféu representa indignação, coragem e esperança”. A cartunista Laerte, que esteve no evento e entregou o prêmio ao representante do Gregório News, lembrou que o humor também é uma forma de resistência e informação: “O Gregório News tem uma função parecida com o Pasquim, que ajudava a enxergar a realidade do país de maneira crítica”.

Ataques a jornalistas e a imprensa 

Durante a entrega do Prêmio, entidades de classe e jornalistas lembraram que nos últimos anos os ataques à imprensa têm se intensificado. Segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), em 2020 foram registrados 428 casos de agressões ou ataques a profissionais de imprensa no Brasil. Dessas ocorrências, 105 envolveram o ex-presidente Jair Bolsonaro, seja por declarações hostis à imprensa ou por atos físicos e verbais direcionados a jornalistas em eventos públicos.

Audálio Dantas

Além disso, a pandemia de Covid-19 também trouxe um aumento na violência contra jornalistas que estavam cobrindo as medidas sanitárias e seus impactos na sociedade. Registros apontam que esses profissionais foram ameaçados, impedidos de fazer o seu trabalho e até mesmo agredidos por pessoas que não concordavam com as informações veiculadas.

Em janeiro de 2021, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) divulgou um relatório mostrando que o país registrou 183 casos de ataques e ameaças contra jornalistas em 2020, um aumento de 68% em relação ao ano anterior. A entidade destacou que o Brasil é um dos países mais perigosos para o exercício da profissão jornalística no mundo.

Cristina Zaar, representante da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) afirmou que, por mais que os ataques tenham se intensificado, a imprensa suportou e ainda resiste: “Nos últimos anos, o número de ataques à imprensa quase quadruplicou. Nós suportamos tempos duros mas resistiremos pelos direitos da sociedade”. 

Audálio Dantas atuou na Negócios da Comunicação 

Audálio Dantas recebe o troféu em sua homenagem

Audálio Dantas e destacou por sua atuação na defesa dos direitos humanos e na denúncia dos abusos cometidos pelo regime militar. Como profissional de redação, atuou nas extintas revistas O  Cruzeiro e Realidade, sendo um dos representantes do novo jornalismo no Brasil (news journalism), além de atuações na Folha da Manhã, e revistas Quatro Rodas e Veja. Em 2017, o prêmio que anteriormente chamava-se “Indignação, Coragem e Esperança” foi entregue a Audálio Dantas em reconhecimento a sua trajetória e após o seu falecimento, o prêmio passou a ter o seu nome como forma de consagrar a importância do legado desse grande profissional do jornalismo brasileiro.

Audálio foi um dos responsáveis por divulgar os detalhes do assassinato do sindicalista e líder trabalhista Carlos Marighella, e também denunciou a tortura e morte do jornalista Vladimir Herzog, em 1975, época em que foi presidente do Sindicato dos Jornalistas de São Paulo. Também atuou como deputado federal e estadual. E foi diretor-executivo da Revista Negócios da Comunicação

O Prêmio Audálio Dantas é organizado pelo Instituto Vladimir Herzog em parceria com a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e outras entidades do setor. 

Sérgio Gomes conta a história do Prêmio

Sérgio Gomes

A curadoria do prêmio é feita pela Oboré e família Kunk, Dantas com o apoio de diversas associações. Sérgio Gomes, da dirigente da Oboré, o  Serjão, como é mais conhecido, lembra que a ideia inicial nasceu em 2015 para fazer uma homenagem a Audálio Dantas, quando ele ainda estava vivo. O troféu — na forma de uma imagem de São Jorge estilizada, com o santo, na forma de um jornalista, empunhando um microfone ao invés de uma lança, com uma câmera no elmo, combatendo o dragão da intolerância, desinformação e autoritarismo — foi uma ideia do cartunista Laerte inicialmente para ilustrar a capa do Caderno de Jornalismo, do projeto Jornalistas do Futuro, da Oboré.

Quando a Agencia Sindical, do jornalista João Batista Franzin, completou 15 anos, foi planejada uma festa na sede da organização Barão do Itararé, no Centro de São Paulo. E Franzin e Serjão tiveram a ideia de durante o evento fazer uma homenagem surpresa a Audálio Dantas, comemorando a trajetória desse profissional e aproveitando seu aniversário de 88 anos, dia 8 de julho de 2017. O troféu, aquela ideia do desenho da Laerte, foi executado pelo artista Roger Matua, um importante nome da produção de efeitos especiais para o cinema. O título do troféu ficou com a frase: Indignação, Coragem e Esperança. Serjão comenta que foi uma sacada inspirada em Santo Agostinho, o qual dizia que a esperança tem duas filhas: Indignação e Coragem. “Indignação nos leva a enfrentar o que está errado. E coragem é o que nos ima impulsiona a enfrentar essa luta”, numa alusão de Sérgio Gomes ao próprio trabalho dos jornalistas.

Com o falecimento de Audálio, alguns anos depois, os idealizadores resolveram dar continuidade ao prêmio, agora com o nome do jornalista, e com o mesmo troféu do São Jorge estilizado. A primeira premiação aconteceu em 2020, no dia 7 de abril, dia do Jornalista, e foi entregue a Patrícia Campos Melo em cerimônia online devido a Pandemia. A segunda premiação ocorreu em 2021 para a radialista Mara Régia di Perna, uma das vozes mais conhecidas no norte brasileiro e da EBC da Amazônia; Jamil Chade, jornalista brasileiro que reside há muitos anos em Genebra e é correspondente na Europa para diversos veículos de comunicação, e Luiz Nassif. Em 2022 receberam o prêmio: Eliane Brum; Julian Assange; e os jornalistas que participaram do consórcio de veículos que durante a pandemia da Covid-19.

Serjão revela que um dos últimos projetos de Audálio Dantas, antes de falecer, era a criação de um programa de TV com o formato de 1h de entrevista com uma personalidade do jornalismo, e mais meia hora do entrevistado responder a perguntas de estudantes de jornalismo. Esse projeto está sendo negociado agora para ser viabilizado em alguma TV educativa, TV Senado ou TV Câmara.

Representantes de diretórios acadêmicos de estudantes de jornalismo da ECA-USP, Casper Líbero e PUC, junto com jornalistas recém-formados  integrantes do Projeto Repórter do Futuro fizeram uma intervenção durante a cerimônia e leram uma carta, que depois entregaram à curadoria, pedindo a união das entidades representativas do jornalismo até a próxima edição do Troféu, no ano que vem, e sugeriram nomes de jornalistas veteranos e que têm papel importante na defesa da democracia e luta contra injustiças, para serem homenageados no ano que vem.


5º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário

Sérgio Gomes, e Juliana Dal Piva estarão no 5º Fórum de jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, que acontecerá nos dias 24 e 25 de julho, online. Eles participam do Painel ” Acredito em você? Como reconstruir a confiança do público na imprensa”, dia 24 de julho, das 17h04 às 17h44.

Vladimir Salaro também participará do Fórum, no Painel: Play na história. Como grandes reportagens têm migrado para diferentes formatos / Dia 25 de julho, das 14h12 às 14h52

 

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