“Hoje nós fazemos rádio sem papel”

Em meio a adaptações e dificuldades que advento da internet trouxe, o radiojornalismo se mantém popular

Há quase 100 anos, no dia 7 de setembro de 1922, foi realizada a primeira transmissão de radiodifusão no Brasil. Foi através das ondas do rádio que o presidente Epitácio Pessoa discursou sobre o centenário da independência do país.

O estudo Inside Radio 2021, da Kantar IBOPE Media, realizado em treze regiões metropolitanas do Brasil, mostra que 80% da população dessas regiões ouvem rádio, e que mesmo aumentando a audiência das rádios pelo celular, as pessoas preferem escutar no aparelho tradicional.

O rádio sobreviveu o surgimento da televisão, nos anos 1950 – época em que muitos temeram seu fim – e hoje sobrevive a popularização da internet e dos canais digitais. Felipe Zangari, Diretor executivo da Rádio Brasil Campinas há 7 anos, fala sobre as adaptações que o meio sofreu e como a internet pode ser utilizada como ferramenta facilitadora na rotina de um jornalista de rádio.

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Confira a entrevista exclusiva com o Diretor executivo da Rádio Brasil, Felipe Zangari:

Quais foram as adaptações que o rádio sofreu com a chegada da internet e quais são as estratégias para manter e conquistar audiência?

A internet veio para dar uma chacoalhada no mercado do rádio, na medida em que tivemos que mudar tanto a linguagem quanto o modelo de negócio. Por mais que não seja possível ganhar dinheiro no online, ou seja, monetizar de maneira efetiva o conteúdo que colocamos na internet, estar presente na internet é essencial, mesmo que seja apenas para dizer para o anunciante que estamos lá. No primeiro momento a sensação era o streaming. O objetivo desse movimento era colocar a programação linear do rádio também na internet, a fim de potencializar seu alcance. Hoje, a Rádio Brasil tem um alcance regional, ela fala para 35 cidades no rádio e quando esse sinal vai para a internet, conseguimos chegar em todos os lugares do planeta.

No segundo momento, transformar os materiais em conteúdos sob demanda foi o foco. Matérias que são produzidas pré-gravadas podem ser colocadas online e entrevistas que vão ao ar ao vivo também sobem para a internet. Muitas emissoras de rádio estão investindo em potencializar o talento de seus comunicadores criando produtos exclusivos para internet, como os Podcasts. Então o comunicador que faz a programação ao vivo tem um Podcast semanal para falar de um assunto que ele mais domina ou um assunto que não daria tempo de falar na programação.

A internet também atua como um facilitador na rotina de um jornalista de rádio na hora de desempenhar as tarefas?

Hoje a internet reduz distâncias, então é possível realizar entrevistas ao vivo com áudio e vídeo apenas com um link de internet, uma webcam em cada ponta e manter o sistema interligado na mesa de som da rádio. Isso é algo que há 7 anos era impensável, e ter um entrevistado falando no rádio e em vídeo para as plataformas digitais da emissora ao mesmo tempo, é um dos principais avanços. No que se refere a rotina de um profissional de rádio, fica mais fácil também na medida em que podemos repercutir os assuntos de maneira mais rápida. Por exemplo, quando uma situação acontece, temos contato com especialistas, professores e até mesmo parlamentares, em que conseguimos colher uma declaração rapidamente por áudio via WhatsApp, que é convertido em um arquivo que vai para o ar. O recebimento de pautas, releases e agendamento de entrevistas também é facilitado. Hoje nós fazemos rádio sem papel, a medida em que os nossos roteiros estão todos hospedados no Google Drive.

Quais são as dificuldades e prazeres dessa profissão?

O grande desafio é sustentar o projeto do rádio enquanto negócio, fonte de receita e sustentabilidade financeira. Ainda estamos em um processo muito doloroso de migração do rádio AM para o FM, foi uma política pública que começou prometendo muitas coisas para o setor de radiodifusão em 2014, mas estamos em meados de 2022 e temos praticamente 60% das emissoras ainda tentando migrar para o FM. Esse processo está muito travado, e as autoridades não estão se dando conta de perceber a urgência do setor.

Falo principalmente do rádio AM, que é onde me encontro. Hoje o rádio AM é feito ou por paixão, de empresários que ainda tem o fôlego financeiro para manter, ou por projetos que tem um caráter institucional ou social, como o caso a Rádio Brasil, que é mantida pela Arquidiocese de Campinas. Se não fosse subvenções da própria igreja, o projeto já não estaria viável do ponto de vista financeiro.

Hoje, na era do digital e rádio FM 2.0, em que é possível ouvir pelo celular, o rádio sintonizado no AM possui um problema técnico gigantesco, tendo em vista que a transmissão para de funcionar quando se liga um liquidificador – porque a bobina do motor do aparelho interfere no sinal de rádio. Cada vez mais equipamentos causam interferências, então isso é um drama. Hoje as agências têm uma visão muito rasa em relação a publicidade na mídia de massa, que está muito preocupada com métrica, mas pouco preocupada com fidelização, e isso é um problema cultural. A preocupação é com o impacto, quantos cliques tiveram, mas se esquecem que o rádio faz parte de uma das mídias fidelizadoras.

Já os prazeres e alegrias são muitos, talvez o mais bacana seja ser positivamente surpreendido no supermercado, em um restaurante ou até mesmo em uma fila e ser reconhecido pelas pessoas. Perceber que o trabalho não é em vão e que realmente estão ouvindo e consumindo o conteúdo mostra que vale a pena o esforço e a dedicação que temos no dia a dia.

Entre tantos meios em que o jornalista pode atuar, por que escolheu o rádio?

Eu aprendi a ouvir rádio com meu pai. Ele sempre foi ouvinte e se comunica muito bem com as pessoas apesar de nunca ter trabalhado profissionalmente com isso. Me recordo de passar as manhãs na infância me preparando para ir pra escola e ouvindo o programa ‘O Pulo do Gato’, da Rádio Bandeirantes, e esse hábito de ouvir rádio acabou ficando comigo. Quando fui escolher a faculdade em 2001, percebi que poderia aprimorar esses gostos e que a produção de conteúdo combinava comigo, então decidi cursar jornalismo.

Naturalmente as oportunidades foram surgindo no rádio. A Rádio Gazeta, que na época era mantida pelos estudantes da Cásper Líbero, foi minha primeira experiência, e logo no primeiro ano de faculdade entrei para a Rádio Valinhos FM, fui chamado para ser o primeiro estagiário da rádio. Tiveram momentos da minha carreira em que não trabalhei com rádio, mas é algo me apaixona e me deixa muito realizado.

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