Com o amadurecimento do mercado de influência, as discussões sobre a disparidade de oportunidade e remuneração pelo trabalho dentro desse setor ganham cada vez mais destaque. Para Alexsandra Celeste Silva, Insight Analyst da Airfluencers, a questão racial é um dos principais fatores dessa discrepância. “Quando vemos as pesquisas com os influenciadores americanos, a diferença de pagamento entre os produtores de conteúdo brancos e negros pode ultrapassar os 50%”, destaca Alexsandra, durante o 9º Fórum sobre Marketing de Influência.
Alexsandra Silva conduziu o painel “O protagonismo negro nas redes”, que contou com a participação de Caio Sena, do Pretitudes e PH Côrtes, do PlanAfros. O conteúdo do Fórum está disponível na íntegra no Youtube.
Para Caio Sena, essa discussão tem origem muito antes do advento das redes sociais e do crescimento do mercado de influência, pois a disparidade de remuneração entre pessoas brancas e pretas sempre foi visível no mercado de trabalho. “A nossa emancipação tem que ser financeira, não pode ser só de espaço. Temos que ter condições de se estruturar e criar novos projetos”, aponta.
De acordo com o administrador da página Pretitudes, ainda existe uma cultura entre as empresas, que por estarem produzindo um conteúdo voltado para a população negra, acreditam que influenciadores negros não devem cobrar para divulgar essas iniciativas. “Qual a lógica de dizer que estão combatendo a desigualdade, quando acreditam ao mesmo tempo que estão fazendo um favor?”, questiona Sena.
A necessidade dos influenciadores negros conhecerem o valor do seu trabalho foi destacada por PH Côrtes, que acredita que é preciso pensar além da necessidade de ocupar os espaços, mas pensando no valor da sua presença. “Isso é algo que é muito perigoso para nós que somos influencers, principalmente pretos, porque vemos influenciadores brancos com o mesmo tamanho que o nosso cobrando o triplo e conseguindo receber”, alerta Côrtes.
Marcas e Agências
Segundo Alexsandra, as agências também possuem um papel importante nesse processo. Depois de uma pesquisa interna na Airfluencers que constatou um baixo número de influenciadores negros participando nas campanhas, agora todos os pedidos de casting da agência incluem esses criadores de conteúdo. “Essa medida aumentou a quantidade de influenciadores pretos fazendo campanhas ao longo do ano”, relata. Ela reforça também a necessidade dessa inclusão ser feita espontaneamente, mesmo sem as marcas requisitarem.
Caio Sena vê nas marcas um papel determinante, pois muitas campanhas que teriam um bom desempenho com o público das páginas feitas por criadores negros, não incluem essas pessoas no processo de divulgação. Além disso, ele defende que os influenciadores devem pensar se as marcas que eles aceitam divulgar também estão comprometidas em ações voltadas para a população negra.
“Recebemos muitas propostas de bancos, mas nós sempre respondemos que só vamos aceitar caso elas se comprometam a proporcionar um curso de educação financeira para essa pessoa preta, porque eu sei que quem me segue é a pessoa da favela que não tem esse conhecimento, então eu não posso deixar meu seguidor acabar se endividando e o banco lucrando em cima dessa dívida”, destaca Caio.
Os participantes do painel destacaram também a necessidade das empresas chamarem os influenciadores negros somente para falar sobre questões raciais, pois existem criadores de todos os nichos, com públicos diversos, que podem trabalhar qualquer tema. Além disso, buscar diversificar os influenciadores que são convidados para as campanhas é outro caminho para melhorar a relação com os criadores negros. “Não é apenas ter um ou dois influenciadores negros e acreditar que vão representar toda a população negra, nós somos plurais”.
Saiba mais
Quer conferir todos os debates e conversas do evento? O 9º Fórum sobre Marketing de Influência está disponível na integra no canal da Negócios da Comunicação.
Clique aqui para assistir ao 1º dia do evento
Clique aqui para assistir ao 2º dia do evento
Clique aqui para assistir ao 3º dia do evento