A última edição do Atlas da notícia, realizado em 2020 pelo Instituto para o Desenvolvimento do Jornalismo (Projor) – mantenedor do Observatório da Imprensa – em parceria com o Volt Data Lab, aponta tendências de fechamento maior do que o número de abertura de veículos de comunicação no Brasil.
O resultado, no entanto, esconde nuances importantes de serem observadas, como destacaram Francisco Belda, diretor do Projor, e Sérgio Spagnuolo, diretor do Volt Data Lab, no 3º Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário, promovido pela plataforma Negócios da Comunicação nos dias 1, 2 e 3 de dezembro. A conversa foi mediada por Ricardo Gandour, professor da Escola Superior de Propaganda e Marketing.
Atlas da notícia
“O projeto do Atlas vem se atualizando ano a ano”, explica Belda. “Mais do que quantificar os dados de abertura e de fechamento de veículos no Brasil, nós precisamos colocar isso em perspectiva.” O fazer jornalístico, segundo Belda, sobretudo em âmbito local e regional, está cada vez mais atomizado, de forma que se encontra cada vez mais o conceito de “eupresa”, ou seja, o jornalista que se organiza em uma estrutura simples para abastecer uma localidade com notícias.
Nesta atividade, também há o risco de que esse espaço acaba sendo ocupado por pessoas que não são jornalistas, mas empresários ou políticos, que “mimetizam as formas do jornalismo, travestindo seu poder de uma forma jornalística.” E aí entram em jogo também a ética, a acurácia e o rigor de apuração do jornalismo nesses locais.
Todos esses elementos estão mais ligados ao propósito do que ao formato do que se chama de jornalismo. “É uma mentalidade, um modo de fazer”, defende Gandour. Até porque, lembra Sérgio Spagnuolo, “se a gente considerar o formato, a gente acaba considerando vários sites que têm produzido desinformação.”
Fechamento de veículos
Nas nuances observadas no Atlas da notícia, o fechamento de veículos – mais de 300 nos últimos anos – poderia levar à inferência de um sumiço da atividade jornalística. Mas pode não ser bem isso. “Não significa um fechamento necessariamente, pode ser uma migração de impresso para online, por exemplo”, explica Sérgio.
Diante deste dado, mesmo assim, Gandour considera preocupante que em algum momento a hierarquização do noticiário das últimas 24 horas por meio do “aglutinador papel” deixe de existir e que isso se reflita no próprio método jornalístico. Belda não acredita que isso vá ser um problema.
“Essa hierarquização do noticiário que tradicionalmente está no impresso certamente migrará para outros formatos. O bom jornalismo independe do suporte”, diz.
Outra característica que preservará a organização e a sumarização inerentes ao impresso é o fato de as publicações digitais serem nichadas. “Você tem poucos veículos online que tem essa pretensão de cobrir tudo, e o jornalismo praticado no digital é muito mais com um escopo específico. Acho que vale a pena levar em conta as estratégias usadas pelos veículos digitais”, comenta Sérgio. “Mais do que o suporte nós devemos preservar a qualidade do jornalismo.”
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