Difícil retomada

Segundo palavras de Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil – IABr entidade que reúne as usinas siderúrgicas nacionais, não se deve esperar para este ano de 2017 a recuperação da siderurgia brasileira

Segundo palavras de Marco Polo de Mello Lopes, presidente executivo do Instituto Aço Brasil – IABr entidade que reúne as usinas siderúrgicas nacionais, não se deve esperar para este ano de 2017 a recuperação da siderurgia brasileira, mesmo porque os números obtidos até aqui mostram uma recuperação insuficiente para recolocar o setor no seu devido patamar.

O ultimo balanço relativo a setembro nos mostra que a produção de aço bruto acumulada de janeiro até setembro de 2017 foi de 25,5 milhões de toneladas, o que equivale a uma elevação de 9,1% quando comparada com o ocorrido no mesmo período de 2016. A produção de laminados foi de 16,6 milhões de toneladas no mesmo período com um incremento de 4,7% frente ao acumulado nos nove primeiros meses de 2016.

Tais números remetem o setor para produção equivalente há cerca de 15 anos e ainda devemos levar em consideração que parte do crescimento se deve
ao fato da entrada em operação da Usina Siderúrgica de Pecém, no Ceará que começou a operar no segundo semestre do ano passado. Se expurgarmos a produção desta nova unidade o crescimento registrado será somente de 3,5%.

A ociosidade da indústria siderúrgica que girava em torno de 40 a 45%, apresenta enfim uma pequena recuperação. A boa notícia é que para o próximo ano estão depositadas as mais otimistas esperanças, já que existem motivos para se considerar esta possibilidade.

O segmento da siderurgia mundial e, particularmente o brasileiro, passa por um segundo problema e se refere ao excedente mundial da produção de aço. Este número chega a 800 milhões de toneladas que literalmente não tem onde ser colocado e foi originado pelo baixo consumo mundial, uma vez que todo o mundo e particularmente a Europa vem patinando no seu desenvolvimento, apresentando números de crescimento abaixo do esperado e pelo excesso de produção da China.

A China que hoje responde por 50% da produção mundial de aço, reduziu o consumo interno e continua colocando seu aço excedente nas mais diversas partes do mundo, em muitos casos por preços sem concorrência. Há uma verdadeira inundação de aço e inúmeros processos antidumping, contra a China, principalmente nos EUA, com difícil solução e que na pratica deixam os profissionais do setor no mínimo apreensivos quanto ao futuro. Enquanto não se chegar a uma equação de equilíbrio entre oferta e procura o quadro não parece que vai mudar.

Em se tratando de projeção para a América Latina, foi realizado na semana passada (6 a 10 de novembro) o Congresso Latino Americano de Ferro e Aço, na cidade de Cancun no México e na ocasião o presidente da Alacero, Jefferson de Paula que é CEO da ArcelorMittal Aços Longos do Brasil disse que “precisamos pavimentar o caminho para garantir o futuro da indústria siderúrgica na região. Embora 2017 tenha sido um ano com mais otimismo que os anteriores, pois estancamos a queda e passamos a crescer a recuperação não se materializa, e estima-se que, no final do ano, o PIB da região cresça pouco mais de 1%. No caso da indústria siderúrgica latino-americana, estima-se que o crescimento do consumo seja de 3,7%, um cenário positivo em relação aos anos anteriores, mas abaixo do crescimento projetado mundial (7%). Outro fator preocupante do setor são as importações, que devem chegar a 23,8 milhões de toneladas (Mt), representando 35% do consumo projetado, dos quais se estima que 8,5 Mt sejam provenientes da China, com um significativo aumento de 11%.”

Para nos ater na situação brasileira, os mercados de maior consumo do aço brasileiro são os da construção civil e a industria automotiva, seguido por máquinas e equipamentos e depois outros setores.

No caso da construção civil, os dados disponíveis até o meio do ano davam conta de um recuo de 27% no que diz respeito a novas construções em relação aos anos anteriores. Felizmente tais números se reverteram e neste momento as projeções do setor indicam para uma curva de crescimento na ordem de 7 a 10% neste ano em relação anterior no que diz respeito a lançamentos de novos empreendimentos. O outro indicador da construção é a infraestrutura representada por obras governamentais, ou seja, construção de pontes, viadutos, ferrovias, melhoria de portos, de instalações e construções publicas etc. Neste quesito, estamos saindo da mais absurda crise econômica que o Brasil viveu em toda a sua história e as projeções são animadoras só para os próximos anos.

O segundo setor com intensa utilização do aço é o setor automotivo e também neste caso os dados divulgados são plenamente favoráveis. Segundo a Anfavea que reúne as principais montadoras nacionais no seu ultimo balanço relativo a outubro houve um crescimento de licenciamento de veículos na ordem de 12,9% no período de janeiro a outubro em comparação ao ano passado e já na sua segunda correção de projeção do ano agora é esperado um crescimento do setor acima de 10%.

O próprio consumo interno que não vinha correspondendo bateu um recorde em outubro e apresentou um crescimento de 27,9 em relação ao mês anterior. Com isto a indústria automobilística que voltou a exportar, favorecida pelo câmbio ajustado tem excelentes projeções para os anos seguintes.

Outro lado positivo desta venda de veículos é que as montadoras, trazem consigo toda uma cadeia de autopeças e prestadores de serviços que são grandes consumidores de metais, onde se destaca o aço. Além disso, mostra um otimismo da população com relação ao futuro, pois a grande maioria das pessoas que compram um carro novo está confiante em manter seu emprego e continuar consumindo, girando, portanto, a economia.

Cabe aqui uma nota ao setor de petróleo e gás, que também é grande demandador da indústria siderúrgica, principalmente na área de tubos e tubulações diversas, além de válvulas e outros apetrechos. Todos sabem que com a operação “petrolão” houve uma paralisação de praticamente 100% das atividades da Petrobrás, além dos diversos problemas financeiros enfrentados por vários fornecedores da estatal. Por último a indústria de máquinas que demora tradicionalmente um pouco mais para engrenar, pois novos investimentos e compra de equipamentos e máquinas só ocorrerá, quando a empresa retomar plenamente a sua capacidade de produção. A eliminação da ociosidade é fator preponderante para isto acontecer.

Ainda sobre a indústria siderúrgica, com a aparente retomada da economia também os dados do setor foram revisados. Já se acredita que em 2017, possamos contabilizar um crescimento de produção na casa dos 5% e no ano seguinte o crescimento pode chegar a 10%.

O Brasil possui atualmente 30 unidades produtivas – usinas siderúrgicas – que pertencem a 14 grupos empresariais. Tem uma capacidade instalada de 50,4 milhões de toneladas de aço por ano, mas em 2016, sua produção ficou em 31,3 milhões de toneladas, portanto uma ociosidade em torno de 40%. Emprega em torno de 105 mil colaboradores e é considerada em termos de ranking mundial a 11ª nação exportadora. Para fazermos uma comparação a atual produção brasileira representa somente 16 dias de produção da China que no ano passado produziu pouco mais de 803 milhões de toneladas, segundo dados oficiais da World Steel Association.

Conteúdo RelacionadoArtigos

Próximo Artigo

Portal da Comunicação

FAÇA LOGIN ABAIXO

Recupere sua Senha

Por favor, insira seu usuário ou email