Uma pesquisa divulgada em abril pela McCann nos Estados Unidos oferece indícios claros de que o cenário – político, social, econômico, cultural – em que se desenvolve a atuação das empresas vive profundas transformações. A pesquisa ouviu cidadãos norte-americanos num contexto marcado pela polarização política agudizada com a eleição do espantoso Donald Trump. Mas basta olhar para a realidade brasileira – igualmente polarizada – ou europeia, idem – para compreender que as conclusões da pesquisa trazem lições universais.
O que diz a pesquisa: que 70% dos norte-americanos consideram os políticos menos confiáveis hoje do que há 20 anos. Até aí, nenhuma surpresa, o questionamento à política e aos políticos é um fenômeno global. Já o dado de que 42% confiam menos nas empresas hoje do que há 20 anos é menos óbvio, ainda que possa ser compreendido à luz do fato, registrado na própria pesquisa, de que grande parcela da população atribui às empresas um poder crescente.
Para a ampla maioria – 84% dos americanos segundo o levantamento –, as empresas têm mais poder que os governos ou os indivíduos para “fazer o mundo melhor”. Basta acompanhar cinco minutos do noticiário na TV, nos jornais ou na internet para descobrir que o mundo, definitivamente, não parece estar melhorando nos últimos tempos. Portanto, a cobrança em relação às empresas é consequência direta do maior protagonismo social assumido pelas organizações privadas após mais de três décadas de musculação do mercado e atrofia do estado em escala planetária.
Os resultados mais instigantes da pesquisa são os que apontam caminhos para o exercício desse novo protagonismo social empresarial. 48% dos entrevistados consideram que as empresas devem mostrar “forte identidade” e uma posição transparente em relação a temas políticos. Ao mesmo tempo, 44% acham que as empresas não devem fazer declarações políticas. Os dados parecem contraditórios, mas ganham coerência quando se procura entender a amplitude do conceito de “política” e a influência cada vez maior da política nas esferas da cultura e do comportamento.
Pouca gente, acredito, espera que empresas indiquem candidatos preferidos, façam discursos de palanque ou vendam esfihas embrulhadas em slogans eleitorais. Não é disso que se trata. O que, sim, se espera das empresas e marcas é que assumam posição em relação a causas que têm impacto social, que são relevantes para seus públicos e pertinentes ao seu território de atuação.
Num mundo em que as empresas conquistaram mais poder, cresceu também, proporcionalmente, sua responsabilidade. Para isso, é importante que identifiquem um propósito e exerçam sua cidadania social com equilíbrio e transparência.