Planejamento de Comunicação para 2026: antecipando o futuro

Com excesso de canais e risco crescente de desinformação, empresas precisam iniciar o ano pela leitura aprofundada de públicos, prioridades e critérios de reputação

A virada do ano costuma trazer a mesma urgência para as áreas de comunicação: “colocar o plano na rua”. Mas, para 2026, a largada mais estratégica tende a ser outra, a de começar pelo entendimento aprofundado de públicos e pelo desenho de prioridades, antes de decidir temas, formatos e frequência. O motivo é simples: a comunicação acontece em um ambiente mais fragmentado, mais acelerado e mais vulnerável a ruído, o que eleva o peso da confiança e da coerência.

Em 2026, a comunicação corporativa será hiperconectada, inteligente e centrada no humano, impulsionada por IA para eficiência, mas exigindo autenticidade e ética para combater o excesso de ruído e construir confiança, focando em experiências omnichannel perfeitas, dados unificados, tempo real e um mix de criadores, mídias sociais e voz para criar conexões significativas e impulsionar o negócio.

O Brasil chega a 2026 com um nível de conexão que amplia oportunidades, mas também aumenta a complexidade de planejar. Segundo o DataReportal, no relatório Digital 2026: Brazil, o país fechou 2025 com 185 milhões de usuários de internet (86,9% de penetração) e 150 milhões de identidades ativas em redes sociais (70,4% da população).

Francine Ferreira

Com tantos canais e estímulos, no entanto, “estar em todo lugar” não garante presença real, e falar mais não garante ser entendido. “Planejamento de comunicação, hoje, é uma decisão de foco. Em um ecossistema com múltiplos canais e excesso de estímulos, as empresas precisam definir com clareza com quem estão falando, o que precisam sustentar como reputação e quais mensagens merecem o tempo e o orçamento do negócio”, afirma a jornalista e especialista em Comunicação Empresarial, Francine Ferreira.

Para a profissional, que é diretora de Comunicação e Imprensa na Expressio Comunicação Humanizada, o planejamento do novo ano precisa partir de três perguntas que organizam todo o restante:

1) Quem é o público prioritário e qual decisão se espera dele?

Nem todo público precisa receber a mesma mensagem, no mesmo canal e com a mesma frequência. A hiperconexão amplia o alcance, mas também exige segmentação e intenção.

2) Em quais canais a marca precisa ser consistente (e por quê)?

Quando tudo vira canal, o risco é dispersar energia. A seleção de canais deve considerar relevância para cada público, linguagem, ritmo de consumo e capacidade real de manter consistência.

3) Quais critérios protegem a reputação em um ambiente instável?

O planejamento precisa prever governança editorial, checagem e alinhamento de porta-vozes, especialmente em temas sensíveis.

Canais e prioridades

A partir do momento em que a empresa define público, prioridades e critérios, o planejamento precisa se transformar em um plano de presença realista, com papéis claros para cada canal. Conforme Francine, isso evita dois erros comuns no início do ano: dispersar energia tentando “estar em tudo” e medir sucesso só por volume.

Um ponto-chave, principalmente para quem busca reputação, é reconhecer que acesso não é sinônimo de confiança. A pesquisa “Credibilidade das Mídias”, divulgada em 2025 pelo Ministério das Comunicações, mostra essa inversão: as redes sociais registram 74% de frequência de acesso, mas 41% de confiança, enquanto o rádio lidera em credibilidade, com 81% de confiança (e 47% de frequência).

Na prática, isso reforça que o planejamento de 2026 precisa equilibrar funções diferentes de comunicação:

·       Credibilidade e validação externa, com presença qualificada em jornalismo profissional e espaços de reputação;

·       Profundidade e consistência institucional, com canais próprios preparados para sustentar narrativa;

·       Relacionamento e recorrência, com pontos de contato que mantenham a marca presente de forma coerente ao longo do ano.

Outro ponto que costuma fragilizar planos anuais é começar por volume e terminar preso a métricas de vaidade. Um sinal de amadurecimento do setor é a busca por indicadores mais consistentes. Para 2026, isso reforça uma orientação prática: metas precisam ir além do “quanto apareceu” e avançar para qualidade do espaço, coerência da mensagem, credibilidade do ambiente e consistência da presença, conectando comunicação ao que realmente sustenta reputação e autoridade.

Mídias sociais

Rafael Kiso

“Muito se fala sobre tendências em mídias sociais, mas nem sempre o foco está no que realmente orienta boas decisões”, avalia Rafel Kiso, fundador e CMO na mLabs. “Com tanta informação circulando, o desafio não é descobrir o que está em alta, mas entender o que, de fato, merece prioridade. É nesse ponto que olhar para o planejamento de forma estratégica e baseada em dados— ao invés de simplesmente reagir aos movimentos do mercado — faz toda a diferença”.

O que guiará o sucesso de marcas e creators nas mídias sociais em 2026, segundo Kiso, é autenticidade e humanização (26,55%) em primeiro lugar, “pois apontam que o próximo ciclo será sobre relações de confiança, não sobre formatos ou tendências de curto prazo. A atenção migrará de quem mais publica para quem mais conecta.

Outro dado importante é saber quais as redes sociais mais utilizadas nacionalmente e por geração. Um estudo da Globo aponta as mais acessadas pelos brasileiros:

  • Instagram: 94%
  • Facebook: 93%
  • WhatsApp: 91%
  • YouTube: 87%
  • TikTok: 81%
  • Telegram: 76%
  • Kwai: 75%
  • X: 67%
  • LinkedIn: 63%
  • Pinterest: 63%

Comunidade (14,69%), micromovimentos e nichos (12,43%) revelam que o crescimento orgânico voltará a depender da densidade social, ou seja: o quanto sua marca consegue gerar pertencimento, e não apenas alcance. As audiências grandes estão se fragmentando, e o poder está nas microculturas que dão contexto às conversas.

Já profissionalização e estratégia (10,17%) e tecnologia, inovação e dados (8,47%) continuam fundamentais, mas perdem o protagonismo para se tornarem infraestrutura. A execução será cada vez mais tecnológica, mas com a direção sendo profundamente humana.

De acordo com a pesquisa “The state of social media marketing 2026”, 54% dos profissionais priorizam engajamento e 53% focam em reputação, e isso já indica um caminho claro.

Planejamento integrado

Vania Gracio

Para marcas globais de tecnologia, empresas B2B, B2C e líderes de comunicação na América Latina, o próximo ano exigirá decisões mais integradas entre marketing, PR, dados, tecnologia e reputação, avalia Vânia Gracio Founder & CEO da Sing Comunicação.

Copa do Mundo e eleições são dois fatores a serem observados, e haverá pleito presidencial em 2027. “Períodos eleitorais demandam cautela editorial, revisão de mensagens institucionais, atenção a regulações locais, além de estratégias claras de gestão de crise, posicionamento público e reputação corporativa”, diz Vânia, que também aponta a Copa do Mundo de Futebol como “uma enorme oportunidade de engajamento cultural, mas somente patrocinadores oficiais e marcas licenciadas podem utilizar a marca do evento”.

Cristiane Rocha

“As empresas precisam cortar os discursos vazios”, recomenda a jornalista, professora e consultora Cristiane Rocha e Silva. “O excesso de jargões e narrativas sem lastro tem enfraquecido a comunicação corporativa. A análise aponta que abandonar slogans repetidos, alinhar discurso à prática e simplificar mensagens é hoje condição para recuperar credibilidade interna e externa, como já alertava George Orwell ao tratar do distanciamento entre linguagem e realidade”

Jornalistas

Do ponto de vista da profissão de  jornalista, a Federação Nacional de Jornalistas – Fenaj divulgou carta de expetativas para 2026: “Precisamos avançar na regulação das plataformas digitais, garantir proteção efetiva aos jornalistas, enfrentar a pejotização e as formas precárias de contratação, além de disputar o uso ético e responsável da Inteligência Artificial no jornalismo. É fundamental fortalecer a organização sindical, ampliar a participação da juventude e garantir condições dignas de trabalho para quem produz informação todos os dias”.

 

Conteúdo RelacionadoArtigos

Portal da Comunicação

FAÇA LOGIN ABAIXO

Recupere sua Senha

Por favor, insira seu usuário ou email