Ambientes de forte colaboração entre as equipes e propósitos unificados por uma cultura coesa. É o cenário ideal buscado por muitas organizações e está no desafio da Comunicação Interna e do RH quando se fala em projetos de ESG e sustentabilidade. Para isso, é necessário um forte envolvimento pessoal alinhado aos propósitos da organização.

“Muitos líderes falam de ESG hoje, mas o exemplo pessoal é o elo mais frágil”, disse Simone Beier, executiva de RH, confirmando a tese de que a vida pessoal se confunde muito com o tempo no trabalho. “Não se pode ter um comportamento incoerente, em termos de sustentabilidade, fora da empresa”. O papel educacional das empresas é muito importante, segundo ela. E compara com a cultura de segurança em empresas industriais, que também é um processo educativo. Viver a sustentabilidade no dia a dia, mas com coerência. “Se a empresa fala em coleta seletiva e pede para o colaborador introduzir isso em sua vida, a própria organização tem que dar o exemplo”.

Antonio Linhares, diretor de Gente no Grupo Energisa, diz que “existem alguns gates importantes, um deles é o modelo de liderança, e deve-se fazer um trabalho com esse grupo para traduzir comportamentos observáveis”. E metas atreladas a questões que envolvem o ESG. Complementando, enfatiza a importância da comunicação interna no processo: “Se nós não fazemos um incentivo, comunicando os nossos anseios, nós perdemos o valor. Ajuda à internalização do processo”.
Também pondera que os comitês de gestão devem olhar sempre para os impactos do ESG em todas as decisões. Incluindo bônus e prêmios para quem cumpre positivamente seu papel. Além disso, tem que ser percebida por cada colaborador como algo viável. Por outro lado, Linhares vivenciou um grave processo ambiental em uma empresa em que trabalhou e, depois desse duro aprendizado, foi estabelecido que dirigentes e executivos não ganhariam mais qualquer bonificação em períodos em que a empresa eventualmente não cumpriu parâmetros de proteção ao meio ambiente, proteção à comunidade e governança/contábil, caso aconteça algum problema nessas áreas. “E a organização pode até pedir de volta valores de bonificações pagos adiantados”. Só treinamento não resolve tudo, ainda segundo o professor, “é preciso amarrar com outras políticas de incentivo”. Não só avaliar entregas do ponto de vista de performance técnica, mas também outras variáveis, como a da sustentabilidade”.

Para alinhar tudo isso, Rodrigo Dib, superintendente institucional e de inovação no CIEE, avalia que não se pode mais dividir a vida profissional da vida pessoal. É preciso fazer “o colaborador sentir na prática tudo isso, cada empresa tem que procurar no dia a dia coisas que cada membro da equipe veja aquilo como uma frente de valor e que seja defendida”. Se for só obrigação de responder a um relatório externo, não se consolida. Até porque ajuda a reter talentos, “pois os mais jovens já buscam empresas alinhadas a políticas de ESG”. O líder, ainda segundo Dib, também precisa mostrar mais seu lado humano e não apenas o de técnico, dedicando mais tempo ao olho no olho, às conversas. “Os indicadores ajudam a pautar essas coisas”.
Construindo a cultura sustentável

Almiro dos Reis Neto, diretor da Franquality Consulting, que também foi presidente e atual conselheiro da ABRH, afirma ter aprendido, ao longo de sua carreira, que “além dos processos, não se faz nada sem as pessoas”. E essa questão do ESG, que ficou forte há cerca de 15 anos e continua, segundo ele, “só tem ampliado, trazendo reflexões para as pessoas e tem sido um caminho cada vez mais relevante nas empresas”. E o importante, recomenda, é não copiar modelos de outras empresas e até de outros países. É, sim, conhecer as diversas experiências, “mas tudo deve ser adaptado à cultura interna”.
Reis neto enfatiza ainda o papel do líder, que de fato irá tratar com todos esses temas dentro da organização. “É a figura principal de qualquer distribuição e multiplicação de valor de uma empresa. E líder, define, são todas as pessoas responsáveis por algum projeto e que influencia outras pessoas.

Atuando em uma empresa familiar, Charmoniks Maria da Graça Heuer, gerente geral de Recursos Humanos na Rede Condor e gestora do Instituto Joanir Zonta, diz que a questão cultural é muito importante. “Não é fácil mudar uma cultura e trazer a questão do ESG, com todas suas letras” [Environmental, Social, Governance – sigla em inglês para Ambiental, Social e Governança]. O treinamento e o voluntariado são algumas das estratégias utilizadas por Charmoniks nessa mudança cultural. “Deve-se envolver todos os nossos times para promover um impacto social, criando um senso de pertencimento”.

Na Votorantim, a realidade é diferente, pois segue uma política internacional de ESG, segundo Andrea Oliveira de Souza, gerente de T&D Global na Votorantim Cimentos. “Temos uma série de compromissos e indicadores”, lembrou. “Fomos conectando a questão do ESG, que deixou de ser vista como uma área, apesar de existir uma diretoria, mas os valores e conceitos do ESG permeiam todos os nossos processos”. No processo de integração, por exemplo, é falado na questão de valores e integridade. “Quando penso em trilhas de desenvolvimento, ressaltamos também os princípios do ESG que deixaram de ser uma sigla e já fazem parte da cultura da empresa, na carbonização, no compromisso 20X30 [Norma ABNT PR 2030, que estabelece requisitos para sistemas de gestão da sustentabilidade em organizações] – que são nossas bases estratégicas.” A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável da ONU, que define objetivos globais para um futuro mais sustentável. As áreas de comunicação interna e RH são fundamentais para construir e dar sustentação a esses processos”.
Esse assunto esteve presente durante o 4º´Fórum Melhor RH ESG e Comunicação
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