por Beatriz Imenes
Nunca houve tantas respostas disponíveis em tão pouco tempo. Nunca foi tão fácil simular proximidade, criar discursos convincentes, gerar textos e imagens que parecem humanos. A inteligência artificial transformou a forma como trabalhamos, nos informamos e até como nos relacionamos. Mas em meio ao fascínio pela velocidade, há um risco silencioso: confundir eficiência com verdade. E sem verdade, não existe confiança.
A tecnologia não é inimiga. Pelo contrário, pode ser uma aliada poderosa. Mas confiar apenas em algoritmos é esquecer que o que sustenta relações, marcas e instituições é a dimensão humana. A IA decifra padrões, organiza dados, projeta cenários. Só o humano, porém, é capaz de interpretar contextos, fazer escolhas éticas, criar narrativas que emocionam e constroem vínculos duradouros. Esse é o ponto central: não é apenas sobre eficiência, é sobre legitimidade.
No campo da comunicação corporativa, esse dilema se impõe com ainda mais força. Reputação não se sustenta na rapidez de um chatbot ou na estética perfeita de um texto automatizado. Sustenta-se na escuta, na consistência, na capacidade de transformar informação em diálogo genuíno. É nesse espaço que reside a diferença entre marcas que inspiram confiança e aquelas que, embora eficientes, parecem artificiais e descartáveis.
É também aqui que o papel das agências de comunicação se torna insubstituível. São elas que unem método e sensibilidade, estratégia e criatividade, tecnologia e humanidade. São as agências que ajudam empresas a traduzir complexidade em mensagens claras, a proteger reputações em tempos de crise, a encontrar o tom certo em meio ao ruído. Nessa era de automação acelerada, cabe às agências lembrar que confiança não se constrói com atalhos, mas com presença, coerência e verdade.
Usar IA não é problema. O problema é usá-la sem critério. É preciso estabelecer princípios claros: transparência para que todos saibam quando estão diante de uma máquina; proteção rigorosa de dados e da privacidade; validação contínua para corrigir distorções e vieses; governança ética que trate a tecnologia como meio, não como fim. Ignorar essas salvaguardas significa arriscar reputações e corroer a credibilidade de empresas, marcas e lideranças.
A vantagem competitiva, hoje, não está em ter mais robôs, mas em cultivar relações humanas. A tecnologia pode apoiar, mas não substitui o olhar atento, a escuta paciente, a narrativa construída com respeito às diferenças culturais e emocionais. O futuro da comunicação, da política e dos negócios será definido menos pelo acesso às ferramentas mais sofisticadas e mais pela responsabilidade de usá-las em benefício da confiança coletiva.
O debate sobre a IA costuma ser apresentado como dilema entre entusiasmo e medo. Na prática, a questão é outra: escolher se a tecnologia servirá ao humano ou se o humano se submeterá a ela. Empresas que se antecipam, testam em escala reduzida, formam suas equipes e prestam contas de seus processos sinalizam maturidade. O contrário, a adesão cega, o deslumbre, a negligência ética, revela fragilidade.
A IA não é neutra. Carrega os vieses de quem a programa, os limites de quem a supervisiona, as intenções de quem a financia. Justamente por isso não se pode delegar o essencial. A tarefa de proteger vínculos, garantir transparência e manter a verdade como eixo das relações permanece humana. O futuro das interações, entre marcas e consumidores, governos e cidadãos, empresas e colaboradores, dependerá menos da capacidade técnica e mais da clareza ética.
Num mundo saturado de informações falsas, manipulações digitais e promessas fáceis, a IA precisa ser tratada como aliada, nunca como substituta. Cabe às lideranças reconhecer que a tecnologia só terá legitimidade se for instrumento para reforçar a dimensão relacional. Quem esquecer essa lição perderá relevância. Quem compreendê-la terá não apenas vantagem competitiva, mas algo mais raro: confiança social.
Não se trata de rejeitar a inovação, mas de compreendê-la em sua verdadeira medida. A inteligência artificial será lembrada não pelas respostas instantâneas que oferece, mas pela forma como ajudará sociedades a fortalecerem seus vínculos. Se for usada para aproximar, esclarecer e proteger, será um marco positivo de nossa era. Se, ao contrário, for instrumento de manipulação e desumanização, ficará registrada como mais uma promessa desperdiçada. A escolha não cabe às máquinas. Cabe a nós.
Beatriz Imenes é CEO da Planin