A sobrecarga feminina não é uma questão pessoal e sim um problema estrutural, com a necessidade de se dividir entre tarefas de trabalho e da casa. Dados da pesquisa Tired, Stressed and Overwhelmed, da Deloitte, apontam que 51% das mulheres relatam estar mais estressadas este ano do que no ano anterior.
Além das mulheres, os homens também estão sobrecarregados, principalmente no trabalho. A solução para ambos pode estar nos micro hábitos diários, pois são esses que constroem a tão almejada felicidade. Isso significa brindes de final de ano, mimos esporádicos, sala de café confortável e uma mesa de pingue pongue na sala de descanso, entre outros. Rotinas bem construídas, consistência dos bons hábitos, transparência e confiança no dia a dia impactam muito mais na satisfação de equipes. Na prática, ações simples e repetidas, como pausas conscientes, reconhecimento diário e autonomia para pequenas decisões, têm impacto direto no bem-estar e engajamento

Ao falar sobre o acumulo de funções femininas, gerando sobrecarga, Fernanda Dabori, CEO da Advice Comunicação Corporativa, cita números bem assustadores, como uma pesquisa da Delloite, que diz que 51% das mulheres alegam estar mais estressadas que no ano anterior. A MacKinsey também tem outro trabalho que mostra que 33% das brasileiras estão com sintomas de burnout e que mulheres na liderança pedem mais demissão por exaustão do que por ambição. “As doenças mentais tem crescido em todo o mundo, e em especial no Brasil, onde a mulher tem uma sobrecarga com tarefas domésticas. E isso tem um reflexo nas companhias. Os novos líderes buscam ter empatia, comunicação, e isso favorece mais apoio às mulheres sobrecarregadas”.

Falando do papel no homem nessa questão, Leandro José Soares, fundador e CEO da Líder com Alma, acredita muito no trabalho de fomentar a equidade de gênero dentro das organizações: “Vivemos ainda numa sociedade muito machista, um machismo estrutural, e muitas de nossas organizações são masculinizadas e nós como homens temos um papel fundamental, principalmente quem atua em situação de liderança, de mudar essa realidade. É um papel social da empresa isso, de resgatar toda essa desigualdade que se consolidou ao longo dos anos”. Ele aponta o líder como uma posição fundamental para entender a segunda jornada na mulher, e cita estudos que mostram que a mulher se dedica 20 horas em dupla jornada, enquanto o homem, 10h. “Qual gestor que pergunta para as mulheres que trabalham com ele, como ela está se sentindo?”.
As lideranças precisam ser treinadas para essa sensibilidade e questões de equidade e gênero. E assim identificar precocemente fatores de risco psicossociais e intervir de forma eficaz, observando sua equipe e conversando com homens e mulheres. Por outro lado, a mulher não precisa ser mais dura, bater na mesa, imitando um comportamento masculino que também deveria mudar. Tudo isso cria uma cultura de segurança emocional. Os treinamento podem descobrir coisas que ficam ocultas no dia a dia, como aspectos comportamentais, culturais e preconceitos.
Desafios na liderança

Beatriz Imenes, vice-presidente da Planin conceitua que ser líder e mulher é um desafio maior. “Temos que ultrapassar desafios que são muito maiores que para os homens. Com todo aquele estereótipo que está deprimida, de TPM, cansada, mal amada, sempre com falas e posturas machistas. Não se olhava a mulher com seriedade e entender o que elas estão sentindo e suas necessidades e sobrecarga, que são sinais de alertas para o burnout e a ansiedade. E se estamos num ambiente corporativo sem acolhimento nossa carreira pode acabar sendo interrompida”.
“Ou não podemos alçar a um cargo de liderança porque temos que priorizar a família”, critica a executiva da Planin. Vejo muitos talentos femininos sendo perdidos porque não conseguem equilibrar esse desafio de ser profissional, mãe e mulher”. Na Planin, uma empresa predominantemente feminina, que tem hoje quatro sócias mulheres, Beatriz aprendeu a ter um acolhimento e flexibilidade. O ambiente sustentável é a melhor prática, além de programas de saúde física e mental.
Encontrar felicidade e prazer nas pequenas coisas

“Ser feliz no trabalho é encontrar atividades que proporcionam prazer, de realização. Ter bons colegas, bons gestores, e se sinta reconhecido. Fatores encontrados em micro hábitos”, opina “Renato Rovina, Head de Recursos Humanos no BNP Paribas. Ele aborda um fato importante, que é o tema de felicidade representando coisas diferente para pessoas diferentes. “Cada pessoa tem para ela o que é mais importante. Não basta ser feliz no trabalho e não ser na família ou não ter saúde. Felicidade dá um senso de realização, de propósito, de ter prazer de contar o que faz e onde faz e não ser um sofrimento de ficar horas naquele local de trabalho”.
Rovina lembra ainda que a felicidade também é uma questão pessoal e o colaborador deve possuir um autoconhecimento para entender o seu momento, o tipo de gestão que ele se dá bem, o que consegue aprender. “Entendo como micro hábito ouvir as pessoas, reconhecer o trabalho delas, dar um tapinha nas costas”.,

Engenheiro químico de formação, há 18 anos na Accor do Brasil, Geraldo S. Netto, há oito anos como diretor de Capital Humano na mesma empresa, defende o conceito de “construir uma empresa capaz de dar a melhor opção para as pessoas, e não a única”. E ressalta que um dos objetivos do RH é oferecer essa melhor opção de trabalho. “O conceito de felicidade é muito amplo e praticamente é uma necessidade da vida da gente”. E questiona: para ser feliz é só no trabalho ou na vida? E colocou que ações de reconhecimento da empresas causam impactos positivos nas pessoas. Um dos exemplos é o reconhecimento de tempo de casa, feito na sua empresa, onde existe um caso de um promotor que fez 40 anos na companhia, o que não é mais tão comum, segundo o diretor da Accor, porque “ esse tempo tem diminuído, e agora temos programas de reconhecimento para 1, 3 e 5 anos de empresa. Porque para as pessoas hoje é mais importante ter ciclos na carreira e as empresas precisam se adaptar a isso”. O salário emocional, para Netto não é só sobre cifras, resume. Recompensa tem valor monetário, reconhecimento, não.
Nem só esses grandes momentos pontuais são importantes. Netto fala das pausas para os cafés, períodos de descontração e integração das equipes, que também fazem bem para a saúde emocional e os relacionamentos. “É uma estratégia de micro hábito que está no dia a dia de muitas empresas”. E pergunta, “o que vale mais, uma pessoa presente no trabalho e que não entrega nada ou entrega pouco; ou o indivíduo que tem os seus momentos de descontração, e quando volta entrega bem mais que a média? São conceitos, estratégias, que o líder deve observar”.
Sair de ações pontuais

Aline Brito, coordenadora de Comunicação e Cultura da Techware, que está alocada dentro da área de RH, reconhece que a felicidade é uma busca muito individual, e diz que estar aberto a ouvir o que as pessoas tem a dizer sobre o que é melhor para elas é um passo bem importante. Sair de ações pontuais, para algo que faça mais sentido, como micro hábitos; entre eles pequenas pausas diárias e conscientes e ações de reconhecimento. Nesse último caso, Aline declara que “nós tínhamos várias ações de reconhecimento aqui que achávamos o máximo, mas ouvindo os funcionários eles disseram que uma algumas deveriam ser reformuladas completamente, uma delas foi o tempo de casa. E estendemos essa valorização para pessoas com menos tempo de presença na empresa. E outras coisas percebemos que devemos mudar, mas só com ouvidos e mente abertas entendemos isso”.
Um tema mais abrangente é falar de “quem cuida de quem cuida”, ou seja, das lideranças. Formar líderes que inspirem e ajudem a formar esse bem estar coletivo é o desafio. Líderes que atuam tanto no estratégico como no operacional precisam de um olhar diferenciado. O papel e as responsabilidades do gestor são diferentes dos demais membros da equipe. “O líder também precisa se engajar com um propósito”.