As tardes de domingo em todo o Brasil foi dominada pelo Programa Silvio Santos durante décadas. O empresário colocou o entretenimento no topo da audiência na TV e utilizou seu poder e influência para negociar favores de políticos. Descobriu também o poder de influência dos telejornais e dividiu com a Globo o controle dos noticiários mais assistidos no País. Ganhou (muito) dinheiro e escapou incólume dos ataques dos partidos de esquerda que sempre acusaram a TV brasileira de alienante e alinhada aos ideais do que conhecemos hoje de direita, ou extrema direita. Enquanto direita e esquerda atacavam a Globo – sem, contudo, nenhuma destas linhas ideológicas cumprir o que prometeram quando ganhasse as eleições – “cancelar a concessão pública da emissora” (De Brizola à Bolsonaro), Silvio Santos navegou no centro da polêmica e sobreviveu.
Seu alinhamento com a ditadura foi oportunista, pois conseguiu a primeira concessão pública de TV, a TVS, numa canetada de Enesto Geisel. Enquanto isso trabalhou na Globo, onde conseguiu notoriedade, comprou a TV Record (posteriormente vendida para uma linha evangélica) e montou o SBT. Chamava o governo de seu patrão, e, portanto, obedecia cordialmente ordens dele. Procurava não fazer critica a governos. Criou o Conversa com o Presidente, último quadro do Programa Silvio Santos, nas noites do SBT, estreado pelo ex-presidente e ditador João Batista Figueiredo. Na redemocratização do país, constrangido, não acabou com o programa, e chegou a incluir no quadro entrevistas com Fernando Henrique Cardoso. Este sim acabou se constrangendo com a badalação desnecessária e decidiu não mais participar.
Tentou entrar na vida pública, se candidatou como Presidente, mas desistiu logo. Percebeu a força e o poder dos bastidores, e que como político, essa carreira poderia atrapalhar seus negócios.
Imprensa livre
Mesma lógica adotou no jornalismo. A criação do telejornal do SBT veio para competir com a Globo e chegou a incomodar nessa faixa. Contratou o jornalista Boris Casoy para comandar e ser âncora do noticiário TJ Brasil e este sempre declarou que fez um acordo com o Silvio Santos para que não fosse censurado e tivesse carta branca para noticiar o que quisesse. Silvio concordou, até porque o jornalista seguiu basicamente a cartilha do patrão. A máscara do alinhamento ideológico da emissora caiu no dia 23 de maio de 2020, já sem Casoy, Silvio Santos cancelou a edição do jornal SBT Brasil daquele dia, que havia noticiado o vídeo da famosa reunião ministerial de 22 de abril do governo Bolsonaro, quando este praticamente estava incitando um golpe de Estado, e a substituiu por uma reprise do programa Triturando.
No governo de Jair Bolsonaro, Silvio Santos fez sua antiga analogia de que o governo era seu “patrão”. E confessou publicamente em se programa que jamais se colocaria contra qualquer decisão do seu atual “patrão” Bolsonaro, que seria, “o dono de minha concessão”, explicava. O beija-mão rendeu frutos. O Governo Bolsonaro foi o primeiro a definir verbas para TV não pelo critério de audiência e sim por conveniência particular de quem o apoiava. Entrou mais dinheiro governamental no SBT do que na Globo – que Bolsonaro chamava de Globo Lixo, bordão que pegou entre seus seguidores. Entretanto, no último ano de seu governo Bolsonaro, além de não tirar a concessão da Globo que prometeu e podia ter feito legalmente porque o contrato venceu naquele ano, direcionou boa parte da verba publicitária para a emissora de Roberto Marinho, provavelmente esperando um retorno de apoio no noticiário. A história mostrou que não deu certo. Pelo menos para Bolsonaro.
Já afastado da TV, inicialmente por problemas nas cordas vocais de depois outros problemas de saúde, típicos de sua idade avançada, Silvio Santos não viveu para ver o desenlace do imbróglio político nacional e a tentativa de golpe que procurou censurar e volta da ditadura, sonhos delirantes do governo anterior, e um fantasma que ainda nos assombra.
O SBT seguiu à risca as ordens de seu chefe de nunca derrubar os desenhos, séries e filmes enlatados, baratos, sob nenhuma hipótese, seja lá o que estivesse acontecendo no Brasil e no mundo de importante que justificasse uma interrupção na grade por alguma urgência ou até morte de alguém importante. Na manhã deste sábado (17), o SBT não derrubou seu “Sábado Animado”, com desenhos animados, enquanto outras emissoras já falava da morte do dono do SBT.