Independentes e digitais: a nova fronteira do jornalismo

Empresas jornalísticas que nasceram ou cresceram na era digital conseguem espaço em segmentos comunitários

Uma guinada 360º na produção jornalística e com rentabilidade. Novos veículos que nasceram independentes e totalmente digitais se firmam como uma tendência em pleno crescimento, enquanto se fala em crise do jornalismo – na verdade o modelo esgotado do jornalismo impresso. Esse assunto inovador foi tema de dois painéis no 6º Fórum de Jornalismo Especializado, Regional e Comunitário, que aconteceu on-line, em maio, promovido pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação e Plataforma Negócios da Comunicação: “ Reescrevendo a história – A transformação da imprensa pela mídia nativa digital e independente”, e “A alvorada da produção descentralizada – Como veículos independentes tem trazido fôlego e renovação para a imprensa nacional”.

No primeiro caso, “ Reescrevendo a história – A transformação da imprensa pela mídia nativa digital e independente”, teve com as participações de Katia Brembatti, presidente da Abraji – Associação Brasileira de Jornalismo Invetigativo; e Maia Gonçalves Fortes, diretora Executiva da AJOR – Associação de Jornalismo Digital.

Maia Fortes, da AJOR

A AJOR comprova essa mudança de perfil no jornalismo Brasileiro. Fundada recentemente, em 2021, inicialmente com 30 organizações de jornalismo digital do país,  hoje conta com 154 associados, a maior parte fundada por jornalistas. “É um contexto vibrante de criação de novas empresas jornalísticas digitais a partir da ampliação da internet e desde 2010 com a chegada da banda larga”, comemora Maia. A maioria dessas empresas surgiram depois de 2015, com os mais diferentes perfis; organizações, algumas com cobertura nacional, outras setorizadas, e locais. Todos buscando uma democratização e ampliação do acesso à comunicação no país. E trabalhando mais próximos da audiência. Maia falou do papel social do jornalismo como bem comum e da sociedade, e que esse conhecimento deveria afetar as políticas públicas de forma positiva.

Kátia, da Abraji, e que também trabalha no Estadão, com checagem, lembrou que a associação tem 22 anos e nasceu devido a morte do repórter da GloboTim Lopes – barbaramente assassinado por traficantes quando produzia uma matéria na comunidade Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro – e esse contexto de agressões aos jornalistas continua. “A Abraji quer garantir o trabalho do jornalista. Com segurança também. Hoje, audiência e a questão econômica do jornalista também está no foco da entidade, além da discussão de como a imprensa cobre o cotidiano”.

Katia Brembatti

Katia Brembatti, da Abraji

Kátia destacou ainda: “Quando a gente pensa em veículos nativos digitais a gente precisa avaliar que, se por um lado eles não podem contar com o histórico consolidado da imprensa, eles tem ao seu favor o frescor, a novidade, sem estar engessados, pontos positivos desse tipo de publicação. O ponto positivo é olhar para a frente mas os nativos digitais podem aumentar a audiência e relevância olhando para que deu certo na imprensa nacional. Que é, por exemplo, o bom jornalismo, trabalhar com fontes, checar as informações, não se deixar levar pela agilidade dos tempos contemporâneos, nem pensar apenas na audiência. A boa audiência virá quando o conteúdo for importante, for percebido como algo que só se encontra naquele lugar e quando tiver conexão com o público. Os nativo digitais, como custam menos, ficam menos presos a essas amarras do passado, podem ser dar luxo de participar de editais e outras rodadas de negócios que não estão disponíveis a veículos tradicionais”.

Em “A alvorada da produção descentralizada – Como veículos independentes tem trazido fôlego e renovação para a imprensa nacional”, participaram Denys Grellmann, sócio e publisher da 100fronteiras; Flávia Saad, head de Conteúdo do Grupo Juicyhub; e Larissa Siqueira Pontes, diretora Executiva da Inova.aê.

Denys, do Semfronteiras

Grellmann destacou o impacto positivo das suas matérias na comunidade, e, como todos os veículos regionais e independentes “fomentam novas perspectivas para o público local”. Valoriza pessoas e marcas da comunidade. Além disso, segundo ele, faz um registro histórico daquelas comunidades e mais, promove mudanças de comportamento com as matérias e conteúdos. E cita como exemplo de mobilização e ajuda ao Rio Grande do Sul com mantimentos enviados por Brasileiros na tríplice fronteira, mas também por pessoas na Argentina e no Paraguai;. “O Semfronteiras fez uma série de matérias sobre essa solidariedade. Do ponto de vista da sustentabilidade, Grellmann disse que o desafio são as mudanças muito rápidas do mercado, “e nós, com 20 anos de atuação, tivemos que rever as estratégias comerciais muitas vezes. E com a digitalização da sociedade, todos são criadores de conteúdo, interfere por nós jornalistas não estamos conseguindo um diferencial. Devemos ter visão de negócio, de produto. Construir produtos que façam sentido para nossas sociedade e que sejam rentáveis”. Um dos problemas apontado por ele, é ter acesso as verbas públicas, que se concentram nas grandes mídias.

Flávia, do Juicyhub

Flávia, o Juicyhub

Por estar na Baixada Santista, perto de um grande centro, que é São Paulo, Flávia desabafou que profissionais da região, de todas as áreas, sofrem da “síndrome do vira-lata”, achando que tudo o que é importante acontece na capital. E isso prejudica negócios de comunicação locais, por essa cultura de baixa-autoestima. “Nós sempre questionamos isso”, defendeu. “O Juicihyb ajuda a construir uma nova autoestima para a população e de uma apropriação de seu território”. Torna a cidade mais interessante para as pessoas que estão lá, segundo ela. Tanto os moradores mais artigos, como um público mais novo que se mudou para o litoral desde a pandemia.  “Tem gente que mora aqui  não conhece a história da cidade, os locais relevantes, as pessoas que impulsionam a economia local e a vida cultural e artística”. Sobre as questões financeiras, ela revelou estar se desafiando periodicamente pois só de likes não se vive, não paga a equipe. “Os pontos de virada de nossa história foram dois, a pandemia quando crescemos em visibilidade, mas caímos em rentabilidade; e o outro foi se unir a AJOR, quando tivemos acesso a possibilidades de financiamento. Hoje pensamos em produtos e projetos. Não só publicidade direta, mas temos outras coisas a oferecer, como por exemplo soluções de mantenedoria, empresas de grande porte que acreditam no projeto. Mas essas conversas demoram. Custou dois anos para termos o primeiro mantenedor.

Larissa, da Inova.aê

Larissa, que trabalha com o tema acessibilidade, concordou com o impacto do jornalismo local, por transmitir informações que grandes veículos não cobrem. A questão, para todos os speakers é manter uma constância do faturamento e isso leva a busca de novas fontes de financiamento. “Na Inova.aê sentimos o impacto que causamos no público via informação. Assuntos que as pessoas desconheciam. E a informação vem também por esse feed-back do público. Fazemos ainda capacitações em equipes de jornalismo. E acabamos sendo exemplo para outras organizações semelhante produzirem conteúdos”.  O projeto de Larissa começou na universidade, na pós-graduação e o desafio foi coloca-lo no mercado.” Precisei entender o modelo de negócio, como ganhar dinheiro e monetizar com isso. Trabalho muito com causas sociais, com doações, que envolve esse público de acessibilidade. Demorou 5 anos, trabalhando para o portal Eficientes, e também fazia frila nesse período”. Logo depois criou um curso para jornalistas criarem conteúdo acessível. E ofereceu alguns serviços. Também se inscreveu em editais para trazer recursos.

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