O Brasil possui baixo índice de leitores. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil desenvolvida pelo Instituto Pró-Livro, somente 52% da população possui o hábito da leitura. O brasileiro tem uma média anual de 4,96 livros por habitante. Entretanto, apenas 2,43 desses livros foram lidos do início ao fim.
O que mostra que o brasileiro ainda não considera a leitura uma prática diária. O levantamento, feito pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural, foi realizado em 208 municípios de 26 estados entre outubro de 2019 e janeiro de 2020.
O hábito da leitura só traz benefícios a quem pratica. Isso porque aumenta o vocabulário, a compreensão do texto e a ortografia, assim como o emocional, visto que os leitores desenvolvem melhor o senso de empatia, autoconhecimento e a compreensão de outras realidades.
Terreno fértil para o bookstagram
Nesse contexto surgiu o chamado bookstagram, ou seja, um Instagram sobre livros. Uma das primeiras formas de divulgar as leituras que o criador de conteúdo realizava eram os blogs literários. Esses blogs foram praticamente extintos, devido a popularização da plataforma YouTube, onde esses criadores de conteúdo foram intitulados booktubers. Mas com a chegada do Instagram, os livros foram parar no feed dos bookstagrammers.
Renata Borges, dona do perfil @retipatia, conta que o bookstagram foi uma espécie de processo natural na criação de conteúdo, já que o Retipatia surgiu primeiramente como um blog, e apesar dele ainda existir, a ideia de outra forma de expressão e contato com as pessoas foi atraente.
“Um tempo depois que comecei a focar o blog em literatura, passei a usar minha conta pessoal no Instagram, de mesmo nome, para falar sobre livros. A transformação dele em um bookstagram foi ocorrendo gradativamente e, de certa forma, natural, à medida que eu comecei a entender aquele espaço como uma forma diferente de falar sobre literatura e com muitas possibilidades também”, conta Renata.
Bookstagram: ponte entre você e o outro
Para Renata, falar sobre livros no Instagram é como uma estrada que se pode percorrer para ambos os lados, pois as redes sociais tem um lado bom e um lado ruim. No entanto, o contato e a troca com as pessoas traz recompensas impagáveis, visto que há carinho, proximidade, conexão e amizade. “Falar de literatura é como criar uma ponte entre você e o outro, através dos livros”.
Os recursos utilizados para incentivar a leitura através do Instagram são, sobretudo, visuais. Os feeds são repletos de fotos muito bem construídas e que envolvem uma grande produção dos bookstagrammers. “Ao longo do tempo fui criando e desenvolvendo meu próprio estilo fotográfico de livros e esse é um dos pontos-chave do meu perfil atualmente. Busco me manter fiel à minha autenticidade, tornando-a, ao mesmo tempo, minha expressão e meu cartão de visitas. É como alguém reconhecendo uma foto minha antes mesmo de ver o @ na postagem”, diz Renata.
No entanto, não são somente as fotos elaboradas que importam para cativar o leitor. É preciso também possuir sinceridade e cuidado no momento de se expressar, além da conexão criada com o público e a comunidade, base de trabalho da @retipatia.
Bookstagrammers incentivam a leitura
Quando Renata começou a falar sobre livros na internet, ela mesma estava retomando o hábito da leitura.
“Foi uma maneira de me lembrar como a literatura é importante em tantos aspectos da nossa vida, mas também uma coisa que acaba sendo deixada de lado nas atribulações do cotidiano, especialmente quando consideradas as realidades econômica, cultural e social do nosso país”, conta Renata.
O trabalho dentro do bookstagram é gradual e vagaroso, sobretudo para atingir aqueles que ainda não são leitores.
“Meu trabalho incentivando a literatura é como o trabalho de uma formiguinha. Você já entra num universo que, por vezes, vai parecer enorme, mas em comparação a outros nichos, por exemplo, tem uma limitação de público, de certa forma. Por isso, nesse trabalho de formiguinha, é mais fácil alcançarmos aquelas pessoas que já se interessam pela leitura, mas aos poucos, também é possível alcançar aqueles que fazem parte do grande índice de não leitores”, explica Renata.
Os perfis literários não ficam restritos apenas a resenhas, mas também contam com leituras em conjunto, sorteios, reels bem humorados sobre literatura e discussões. Todos esses artifícios funcionam como um incentivo para as pessoas lerem. Além disso, o bookstagram possui um papel fundamental para a quebra de preconceitos literários, seja do próprio criador de conteúdo ou dos seguidores.
“No bookstagram comentamos muito sobre as leituras que estão dentro da nossa zona de conforto e o convite para nos aventurarmos em outros estilos literários, muitas vezes, acaba acontecendo quando somos capazes de passar nossa experiência de modo convidativo. É claro que isso não é uma totalidade, posicionamentos e atitudes preconceituosas ainda existem no meio literário e são reforçados de algumas formas, mas desconstruir esses pré-conceitos sempre é possível e um dos pontos que gosto de ver refletido no meu trabalho”, aponta Renata.
Como a pandemia impactou o bookstagram
Apesar dos perfis literários estarem sempre agregando mais seguidores, a pandemia foi um propulsor para o surgimento de muitos bookstagram e o crescimento de outros. “O período da pandemia permitiu uma aproximação diferente do público, assim como um número considerável de pessoas retomando o hábito da leitura”, afirma a criadora do @retipatia.
Assim como esses espaços também funcionaram como uma forma de acolhimento às pessoas, a própria literatura se tornou uma forma de se refugiar diante do que estava acontecendo.
“A questão que vejo positivamente ao lidar com a pandemia foi a proximidade com as pessoas, foi perceber que muitas estavam no mesmo barco, se sentindo desamparadas e despreparadas. Que muitas queriam encontrar refúgio nas leituras e naquele espaço. Desde então, busco que meu espaço seja de acolhimento e um refúgio nos tempos tempestuosos em que vivemos”, finaliza Renata.