A comunicação interna ganhou protagonismo durante a crise sanitária e está sendo percebida pelas lideranças como um fator que atua para manter a cultura organizacional e o engajamento nas equipes, além de auxiliar na manutenção da saúde e bem-estar dos colaboradores. Afinal, uma comunicação eficaz influencia no ânimo de todos, seja no modelo tradicional, teletrabalho ou home office – o que pode impactar diretamente no rendimento – e no lucro – da empresa. “É muito importante que a liderança da companhia tenha consciência que esse lucro não vem a curto prazo, vem a médio e, na maioria das vezes, a longo prazo. Tem que ser um trabalho consistente”, ressalta Mariana Augusto, gerente sênior da Divisão Brasil da Arcos Dorados, empresa que opera a marca McDonald’s na América Latina e Caribe. Para Fernando Campoi, gerente de imprensa corporativa, Comunicação Interna e Comunicação Digital da Volkswagen é fundamental mostrar para o manager da empresa como uma comunicação interna estruturada, transparente, honesta, de cima para baixo, vai dar lucro.
De ponta a ponta
Mariana explica que o maior desafio da equipe de comunicação é contar com um público tão diversificado, desde diferentes gerações à cargos posições. A Volks também enfrenta o cenário, com 70% dos empregados em chão de fábrica, produzindo o dia todo e sem acesso contínuo ao computador. “O principal papel é deixar todo mundo alinhado com o que está acontecendo não só fora da empresa, mas dentro dela”.
Sheila Ceglio, diretora de Recursos Humanos da Pfizer, analisa que apesar das três companhias serem diferentes, com desafios distintos, a comunicação segue como ferramenta estratégica de engajamento. “O grande desafio hoje está relacionado a ter uma comunicação significativa, que tenha impacto e conectada com os valores, que venha de cima e seja assertiva no tempo certo. A comunicação vai engajar, ser transparente e gerar valor”, reforça Sheila.
Mudança
A chegada da pandemia, exigiu ainda mais desses propósitos com o deslocamento das equipes para o home office. “A gente se preocupou em trazer muita informação por conta das fake news que rolavam, por conta da família. Trouxemos especialistas, pessoas de saúde para conversar sobre os pontos que os funcionários tinham dúvida”, explica Mariana.
Dentro da força tarefa de comunicação no McDonalds, ela conta que chegaram a fazer dois webinars por semana, até que o acesso começou a cair. “Então paramos para ver o que eles queriam ouvir. Eles estavam sentindo falta de ter uma liderança próxima. Muitas vezes no dia dia a gente acaba cruzando com o presidente, com algum diretor, você estava com o seu líder direto. A pandemia trouxe mais protagonismo para as pessoas”, conta.
Depois da pesquisa, o McDonald’s passou a fazer um encontro chamado Mc Conexões, com a participação de dois líderes da companhia. Sem pauta fechada, é feito com as perguntas enviadas pelos colaboradores. “Não ficamos só no profissional, a gente mostra o líder nas suas dores e preocupações: como conciliar com os filhos, tudo que está vivendo.” explica. Mariana aponta que é preciso olhar muito o tom da comunicação, ainda mais nesse momento em que uma parte da equipe está em home office, mas a outra segue no presencial atuando nas lojas. “Temos essas duas realidades: Para o campo a gente tem um calendário muito mais otimizado, com a preocupação de não enchê-los mais de preocupações, não ficar criando muita coisa nova”, diz.
Humanização
Por isso, Campoi também aponta como a comunicação interna tem sido um elo fundamental entre a empresa e o empregado, sobretudo nas informações de como esse “novo normal” muda a vida das pessoas. “Eles têm utilizado para tirar dúvidas. É tudo, é um pouco de humanização, de saber o que está acontecendo com a saúde e a segurança e poder ir trabalhar tranquilo sabendo que a empresa está preocupada com a saúde deles.
Sheila, da Pfizer, também endossa a mudança do foco na comunicação corporativa, agora mais humana, centrada no indivíduo que está passando por um processo. “É acolher, flexibilizar, reconhecer as dores e desafios”, conta e questiona: “É flexibilizar a forma como a gente move a cultura das empresas. Será que eu preciso chegar naquele horário ou usar aquela roupa?”.
Campoi analisa que toda a mudança foi muito rápida, mas bastante eficaz. “Imagina todo mundo conectado numa VPN ao mesmo tempo, tem uma estrutura importante por trás”, aponta. No geral tem se usado webinars, a digitalizar mais coisas, reuniões passaram a ser organizadas virtualmente e usar muito mais vídeos. “Na Volks temos um app de acesso dos empregados que foi evoluindo e tem hoje 98% de adesão. Ele foi a ponte com a empresa no momento que as fábricas fecharam, era por ali que o colaborador ficava sabendo de tudo”, conta.
O Méqui também conta com um aplicativo, que se tornou mais estratégico e acelerou a comunicação. Mas a grande mudança foi na forma de repensar algumas entregas. “Temos um jornal semanal que é tudo o que precisa saber sobre a empresa em dois minutos. O custo caiu absurdamente e trouxe mais informalidade. Além de facilitar a participação de outras pessoas e tornar tudo mais ágil: pega o celular e fala com o presidente”, explica Mariana.
Já na Pfizer, uma solução que tem funcionado são os podcasts, pela flexibilidade. “A gente ganhou um papel de protagonismo e teve que se desafiar e nos tornar muito mais digitais”, fala Sheila. Campoi, da Volks, reforça: “A digitalização avançou muito e trouxe diversos benefícios, que o simples e bem feito tem o mesmo efeito que uma superprodução. Quebrou esse paradigma que tem que ser uma super produção com o presidente. Eu posso até lançar um carro virtualmente e ele vender bem”, finaliza.
Protagonismo
Pensando no protagonismo do RH, a Plataforma Negócios da Comunicação e Melhor RH promove o Fórum Empresas que Melhor se Comunicam com Colaboradores, nos dias 28 e 29 de junho. O evento será totalmente online e gratuito, transmitido ao vivo nos canais do youtube das duas plataformas. “Unimos as expertises dos gestores de comunicação aos gestores de RH e de pessoas e construímos um evento único”, explica Márcio Cardial, publisher da Plataforma NC e da Plataforma Melhor RH.
Cardial aponta, que além dos debates entre os especialistas do setor, marcas, plataformas e agências vão apresentar as melhores práticas e os caminhos mais eficientes na comunicação com colaboradores em um cenário que VUCA.