O vínculo entre as comunidades e os veículos que fazem coberturas locais ou hiperlocais sempre foi forte. Agora, com a explosão das redes sociais e de aplicativos de mensagens instantâneas, há uma nova relação, ainda mais fundamental e empoderadora.
Esse diagnóstico é compartilhado por Samir Trad, diretor do jornal de bairro SP Norte, e Luciane Viegas, diretora executiva de jornalismo da EPTV, afiliada do Grupo Globo no interior de SP e sul de Minas Gerais. Ambos participaram do painel O novo jornalismo local: Como a mudança no consumo e produção de conteúdo tem fortalecido as comunidades, do 3º Fórum de Jornalismo Regional e Comunitário, promovido pela plataforma Negócios da Comunicação. O bate-papo foi mediado pelo jornalista Luiz Nascimento, coordenador de afiliadas da rádio CBN.
Mudança radical
“Estou nessa profissão há 23 anos, basicamente com jornalismo local”, conta Luciane. “A internet trouxe uma mudança muito radical para a TV, mas especialmente as redes sociais. As pessoas passaram a ser produtoras de vídeos, e hoje denunciam com facilidade e com uma força muito maior. A gente chega a ter um telejornal com 40% de conteúdo produzido pelo telespectador.” São cerca de 800 mensagens recebidas por dia somente na região de Campinas.
E essa digitalização também leva a mudanças radicais no próprio formato físico dos veículos e da demanda pelo conteúdo. Samir Trad, após a quarentena imposta pela pandemia de Covid-19, optou por encerrar a edição impressa do jornal e apostar nos meios digitais. “Nós tomamos a decisão de colocar todos os nossos esforços na internet, nas redes sociais e, mais recentemente, numa tevê web. Com isso, observamos um aumento de mais de 150% no acesso”, explica.
Esta foi, inclusive, uma mudança de estratégia para atrair mais anunciantes, cujas receitas também foram prejudicadas pelo novo coronavírus. “Tivemos de nos reinventar”, completa.
Dinamismo, precisão e futuro
Apesar das mudanças na seara tecnológica, os fundamentos da prática jornalística, como verdade e precisão, precisam se manter, embalados por um dinamismo crescente. “Contextualizar as notícias de uma forma mais dinâmica e resumida foi uma demanda do nosso público”, pontua Samir.
“Temos que criar cada vez mais canais para ligar as pessoas ao jornal, afinal somos uma ferramenta de utilidade pública, de prestação de serviços. Muitas vezes o problema na comunidade se perpetua e não há uma ação do poder público. Os veículos servem como alavanca para resolução desses problemas.”
E a Covid-19 trouxe ainda mais desafios. “A pandemia mudou a dinâmica da gravação”, detalha Luciane. “Nós fizemos até tutorial para ensinar as pessoas a gravar seus próprios vídeos, porque a gente passou a necessitar desse trabalho do telespectador ainda mais.”
Importância ao hiperlocal
Agora, se nuvens escuras parecem despontar no horizonte do futuro do jornalismo, isso não parece assustar Samir Trad e Luciane Viegas, que creditam à importância ao local e ao hiperlocal a sobrevivência deste segmento da informação.
“As pessoas estão mais interessadas no que acontece no seu entorno”, diz Samir. “O jornalismo regionalizado é muito importante, e as secretarias de comunicação e as agências de publicidade precisam perceber isso, valorizar o jornalismo regional.”
Luciane concorda. “As pessoas vão buscar cada vez mais informações na porta de casa”, pontifica. “Esse jornalismo terá vida longa.”
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