O movimento Black Lives Matter levantou o debate sobre o racismo não apenas nos EUA, mas em todos os países. O tema também chegou ao mundo da comunicação, quando consumidores passaram a cobrar de marcas um posicionamento claro nas campanhas, nas relações internas e externas.
“Uma empresa que não se coloca em um projeto de inclusão e representatividade, tem muito a perder. Estamos em uma sociedade pautada pela questão monetária, então estamos falando de perdas substanciais”, apontou Egnalda Côrtes, CEO da Côrtes, que agencia influencers negros para criação de conteúdo. O tema fooi debatido durante o painel “#blacklivesmatter na prática: o comportamento das marcas” – O que de fato mudou após a onda de manifestações, no Fórum Marketing de Influência, promovido pela CECOM, em parceria com a revista Negócios da Comunicação.
Ecossistema
Ela explica que empresas com mulheres em cargos de diretora apresentam 25% a mais de lucro e com negros e negras esse lucro chega a 35%. “Quem não se vê representado no produto, não vai consumi-lo. E no Brasil, um país majoritariamente negro, isso significa muito”.
Mafoane Odara, gerente do Instituto Avon, explica que o posicionamento de uma marca não é apenas pontual diante de uma comoção popular, mas sim uma construção interna que reflete toda a sociedade. “Como marca, temos que pensar no país que queremos construir. E se o seu negócio se diz para todo mundo, tem que agregar todo mundo. E essa relação deve se estabelecer em todo o ecossistema”.
Potências
Mafoane aponta que no trabalho com influenciadores e pequenos empreendedores, a questão da representatividade é essencial, principalmente para apresentar pessoas que têm menos oportunidade, por ser uma parcela “minorizada” na sociedade. “Falar que as vidas negras importam não falar das mazelas, mas sim das potências”.
A conversa, que aconteceu no Fórum Marketing de Influência, promovido pela Cecom, foi mediada por Fernanda Dabori, da Advice, que levantou alguns pontos para o debate. Como a questão do suposto oportunismo de algumas empresas diante da questão racial. Egnalda lembrou que, caso não haja movimento internamente, o Brasil perderá seus consumidores e profissionais negros para a concorrência internacional.
“Se não fizemos nacionalmente, teremos uma invasão não só de produtos, mas inclusive em busca de talentos negros. O mercado lá fora está cada vez mais aquecido e eles entendem a lucratividade de trabalhar com essas pessoas. Voltando ao Brasil, com oportunismo ou não, existe um avanço, e eu quero esse movimento”, garante.
Nivelar por cima
“Nós da Avon queremos uma empresa diversa como o Brasil. E isso significa 55% em todos os nossos níveis hierárquicos. Pontos de vista diversos garantem que sempre terá alguém que cobre o ponto cego do outro. E dessa forma nivelamos sempre por cima”, explica Mafoane.
A executiva afirma que as empresas precisam ser coerentes, consistentes e que devem mudar a cultura, não apenas trazer profissionais negros para um ambiente ainda com uma cultura violenta para eles. “Tem que acolher e pensar: qual nosso compromisso com a sociedade?”.
Legado
Mafoane diz que esses pilares precisam funcionar nas empresas que querem mudar. “Temos dois caminhos: ou elas se alinham a um projeto de país onde todo mundo importa ou elas vão morrer”, decreta.
Egnalda faz eco e lembra que a mudança causa desconforto, mas tem um resultado positivo. “Não existe transformação sem dor ou incômodo. Marcas que precedem algo sempre sofrem um pouco. Recentemente tivemos o exemplo da Magalu, que deixou bem claro seu processo de equidade. Essa coragem tem um preço, que é calculável. Existe uma perda e um ganho futuro, é um processo pluriversal e isso torna a sociedade mais rica. Isso vai fazer com que as pessoas da nossa contemporaneidade construam um legado”.
Saiba mais
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