Uma publicação do site IGN, reconhecido como um dos principais sites de games no mundo, causou um debate no Twitter que levantou a questão do SEO no jornalismo e como os veículos têm valorizado cada vez mais a força das palavras-chave na internet.
O post em questão anunciava uma avaliação do novo jogo dos “Vingadores”, da Marvel, que será lançado em setembro pela PlayStation. Porém, como o game ainda está na fase beta, de testes, não seria possível haver uma review, já que o código para a avaliação ainda não havia sido liberado pela empresa.
Chris Plante, jornalista norte-americano especializado em cultura e games chamou atenção para a publicação precoce do IGN e explicou qual seria o motivo: “Esse é o porquê de você estar vendo a review de um jogo antes que seu código de avaliação seja distribuído: Não é, de fato, uma review, mas é uma atitude “imobiliária” de guardar lugar no Google. Ao colocar o título mais a URL com “marvels-avengers-review”, o IGN ganha autoridade no algoritmo do Google”.
A repercussão da postagem trouxe à tona o debate sobre o quanto o SEO define o trabalho jornalístico dos veículos, que passaram a repensar a forma de escrever títulos e textos para que garantam o primeiro lugar no mecanismo de buscas do Google. Conhecido pela sigla, o Search Engine Optimization foi desenvolvido para ajudar consumidores a encontrar o melhor conteúdo disponível, mas tornou-se também uma ferramenta que privilegia o também aquele que foi disponibilizado primeiro e seguindo com mais eficiência as regras de uso das palavras-chave.
Ainda no Twitter, o jornalista Brian Crecente resumiu qual o problema com a atitude tomada pelo IGN. De acordo com ele, o que garante a audiência e o sucesso de publicações na internet é ser o “primeiro” a dar uma notícia ou ser o “único”, gerando então a repercussão sobre um tema que antes não havia sido abordado. “Ser único requer encontrar um ângulo não habitual. Assim você pode escrever algo que desperta a ira dos leitores ou algo que de forma inteligente captura o zeitgeist do momento. O segundo jeito é muito mais difícil de se fazer, por isso nós vemos tanto do primeiro caso”, explicou o criador do Kotaku.
Além das críticas ao veículo por querer garantir a relevância pelo SEO, muitos usuários afirmaram que a notícia seria uma espécie de fake news, já que não há a possibilidade de terem avaliado um game que não foi lançado. E é exatamente a rede de notícias falsas que também se beneficia do mecanismo do SEO.
Um estudo feito pelo Oxford Internet Institute intitulado “Follow the Money: How the Online Advertising Ecosystem Funds Covid-19 Junk News and Disinformation” mostrou como a maior parte dos sites que disseminam fake news financiam-se pelo Google Ads – 61% contra 59% dos sites de jornalismo.
Ainda de acordo com o estudo, os tradicionais veículos pecam na hora de usar o SEO e acabam perdendo relevância em comparação com as “máquinas de fake e junk news”. Sites que sistematicamente publicam notícias falsas ou distorcidas, inclusive relacionadas à Covid-19, apresentam estratégias eficientes de SEO para ressaltar seu conteúdo nos buscadores.
“Os principais sites de desinformação atingem altos fatores de SEO (conseguem boa visibilidade em mecanismos de busca) e conseguem otimização de distribuição em mecanismos de busca um pouco melhor que os sites de jornalismo profissional.”