O mundo atualmente está repleto de máquinas e robôs. Na área de comunicação, não é diferente. Aliás, o setor foi um dos mais afetados pelas mudanças. Tecnologias disruptivas como algoritmos, inteligência artificial e Natural Language Generation (NLG) estão presentes em smartphones e também nas redações — para apuração, produção de notícias e distribuição de conteúdo.
Apesar disso, as pesquisas acadêmicas sobre esses aspectos ainda são muito raras — o que me levou a entrevistar presidentes e diretores das maiores empresas, que, de forma geral, mostraram-se céticos e descrentes com tecnologias como algorítmos e inteligência artificial. Reconhecem que são promissoras com grande potencial de crescimento, porém, não vislumbram no curto prazo uma integração maior com elas. Para o ex-CEO do Grupo Abril, Walter Longo, “se eu souber, através dos algoritmos, o que as pessoas gostariam de adquirir, isso é bom para eu vender mais o produto ou ter mais audiência”.
Para os entrevistados, não está clara a relação custo-benefício dessas tecnologias. Notadamente no setor de TV aberta, as empresas brasileiras de mídia vislumbram reduzidas possibilidades de adoção dos algoritmos.
O diretor de programação do Grupo Record, Marcelo Caetano, reconhece: “Inevitavelmente quem produz conteúdo vai se beneficiar dos algoritmos. Um exemplo é a série House of Cards, do Netflix, que foi criada a partir de decisões tomadas por algoritmos a partir de banco de dados”. Mas pondera: “Estamos ‘tateando’ nesse campo no Brasil”.
Além do custo da tecnologia, os entrevistados também ressaltaram que a adoção de algoritmos representa uma mudança na própria estrutura dos cargos das redações. Apenas o editor executivo de conteúdos digitais do Grupo Estado, Luis Fernando Bovo, afirmou que seria positivo o jornalista se concentrar em atividades menos mecânicas enquanto a máquina produziria textos menos importantes: “Eu não acho ruim você ter uma máquina produzindo notícias que são commodities”.
Uma das poucas opiniões unânimes diz respeito ao cuidado que se deve ter com a disseminação de notícias falsas. Para o CEO do Grupo RBS, Eduardo Melzer, “algoritmo é adequado para informações simples e de feedback, mas não é apropriado para a produção jornalística séria e profissional, que precisa ter discernimento, apuração, visão plural e responsabilidade social”. O conteúdo, no entanto, não tem se mostrado absolutamente imprescindível. Estudos internacionais já apontam inovações úteis às empresas de mídia quando, principalmente, reforçam as redes de distribuição, reduzem custos e melhoram o engajamento com leitores/ assinantes.
O jornalismo algoritmo, no qual a máquina produz conteúdo de forma quase autônoma, é uma tecnologia inevitável em determinadas circunstâncias, como na produção de textos puramente factuais – meteorologia, mercado financeiro e resultado de partidas esportivas são os melhores exemplos. O desafio está em como viabilizar essa tecnologia do ponto de vista técnico e econômico.
Outra possibilidade é produzir tecnologia a custos baixos a partir de um intercâmbio com o ecossistema de inovação, principalmente as universidades, cujo conhecimento técnico e aplicado pode ser útil para encontrar caminhos.