Fake news, novas tecnologias, crise no setor, grandes publicações fechando. Ao ver tudo isso, você deve se perguntar: o jornalismo está em decadência? Só que o que acontece é exatamente o contrário. Mais do que nunca o bom e velho jornalismo precisa estar presente na sociedade e para a sociedade. Em um momento histórico no qual há o excesso de informações e, muitas delas falsas, o bom trabalho jornalístico se torna cada vez mais imprescindível.
Mesmo com todas as mudanças e os problemas que o segmento vive, o jornalismo ainda é um dos principais instrumentos para a garantia da democracia na sociedade. “O jornalismo é um dos pilares da democracia. Nenhuma sociedade consegue sua sobrevivência sem ter conhecimento dos fatos e tomar as suas atitudes após refletir antes de definir o caminho que pretende seguir”, explica Henrique Pátria, jornalista com mais de 40 anos de profissão e editor-chefe da revista Siderurgia Brasil.
Para Solange Guimarães, superintendente de Comunicação Institucional e Relações com a Imprensa da SulAmérica Seguros, o jornalismo, desde os seus primórdios, carrega um papel relevante de agente transformador por meio da informação e do incentivo ao debate e formação de opinião qualificada a partir de uma atividade fundamentalmente imparcial. “Essa profissão, que questiona de forma saudável e busca entender todos os lados de uma história, é peça central para o desenvolvimento de uma população crítica, que seja capaz de enxergar na diversidade de opiniões uma oportunidade para ser uma sociedade plena e evoluída”, diz a executiva.
O papel do jornalismo é fornecer para a sociedade ferramentas para que a sociedade tome suas decisões de forma consciente. Não é parte do papel do jornalista dar opiniões em prol de A ou B, a menos que isso seja feito em um espaço correto, devidamente sinalizado. O bom jornalismo é imparcial, mesmo em tempos em que é difícil manter certo distanciamento da vontade da sociedade.
A importância do jornalismo para a democracia é tamanha que é impossível pensar em uma sociedade democrática sem imprensa livre. Essa visão, exposta pela Elisa Prado, diretora da Vivo/Telefonica, é intrínseca a todas as camadas da população. “Mas o papel do jornalismo na formação e manutenção das bases de uma sociedade democrática vai além de sua missão fiscalizadora e denunciante de práticas contrárias a interesses da maioria. Jornalistas são responsáveis também por manter viva a memória da sociedade, contribuindo para evitar que erros do passado sejam repetidos, bem com valorizando a importância de decisões acertadas”, completa.
Para combater a crise no setor e fortalecer, ainda mais, o papel democrático do jornalista na sociedade, é necessário, entre outras coisas, dar um chega para lá nas notícias falsas.
Para a jornalista Kelly Lubiato, é importante ensinar o leitor a identificar os traços que essas notícias trazem, como fontes não confiáveis, título com impacto, mas que não condiz com o texto, data de publicação etc.
Henrique Pátria reforça essa necessidade de saber como fazer uma boa checagem. “Infelizmente, assim como em outras profissões, existem os bons e os maus jornalistas. Há gente que se preza e até ganha dinheiro com isso ‘fabricando notícias ou fatos’ que não condizem com a verdade. Principalmente no momento da grande influência das redes sociais, isso é danoso para a formação de uma sociedade. A forma de combater é por meio de denúncias, pois hoje já existe organismos especializados junto aos órgãos públicos de combate a essa prática”, explica o jornalista.
Para Solange, superintendente de comunicação da SulAmérica, o bom jornalismo, pautado pela ética e por uma apuração cuidadosa, faz-se ainda mais necessário em uma época marcada pelo avanço de redes sociais e pelo consumo cada vez maior e mais rápido de informação. “Se, por um lado avança a proliferação de notícias falsas nas redes sociais, isso demonstra o interesse da sociedade por informação. Nesse sentido, o jornalismo encontra uma grande oportunidade para mostrar sua importância como gerador de conteúdo de qualidade e, consequentemente, como ferramenta para combater as fake news”.
Acima de tudo, como foi dito lá no começo do texto, o jornalismo, mesmo com crises, fakes news, demissões, precisa estar mais atuante do que nunca. Só que agora é preciso repensar a profissão, com as novas mídias, e resgatar pontos importantes, que tornaram o jornalismo uma das áreas mais respeitadas pela sociedade.
Temos que pensar no equilíbrio. O bom jornalista continua necessitando das mesmas coisas que necessitava no passado: bom texto, apuração, curiosidade. “Estas premissas não mudaram. A forma de distribuir o seu produto é que mudou. Se não podemos mais contar com o texto impresso, podemos difundir o trabalho no mundo virtual, em diversos canais. Se a televisão aberta já não é mais uma alternativa, os canais pagos ou as mídias segmentadas em multitelas podem ser de mais fácil acesso. O que sempre continuará sendo necessária a boa atuação dos profissionais, sua capacidade de análise, sua independência”, completa a jornalista Kelly Lubiato.