As redes sociais estão cada vez mais presentes na vida cotidiana. Desde o nascimento de uma criança e sua comunicação com amigos e familiares, aos primeiros gestos e acompanhamento do crescimento, tudo tem sido registrado e divulgado nas redes sociais.
Reflexo do comportamento adulto contemporâneo, as crianças e adolescentes, que pertencem a gerações nascidas em ambiente totalmente digital, estão cada vez mais imersos em um mundo no qual essas redes estão onipresentes. Com estimativa de 82% dos jovens brasileiros de 9 a 17 anos serem usuários da internet (TIC KIDS ONLINE BRASIL, 2016), é possível projetar o impacto de saber em tempo real o que determinada pessoa está fazendo, o que um ídolo pensa ou o que está vestindo e consumindo, por exemplo.
De espectadoras, as crianças e adolescentes passaram a ser protagonistas e a produzirem conteúdo on-line para interlocutores de mesma faixa etária. Já se fala em cultura lúdica infantil digital, pois tem sido o novo brincar de muitas crianças na contemporaneidade. Sim, gravar vídeos, publicá-los em plataformas como o YouTube e interagir com “fãs” já são brincadeiras cotidianas demandas por crianças que acabaram de aprender a falar.
Além disso, já há alguns canais de referências no Brasil, com milhões de seguidores e bilhões de acessos, e a ocupação tem nome, que são os youtubers mirins. Alguns, inclusive, são tratados como celebridades pela sociedade e pela mídia. A presença de crianças produzindo conteúdo na internet potencializou e ampliou seu protagonismo, possibilitando expressar o que pensam, o que sentem e como compreendem sua própria realidade.
No entanto, também é fato que há uma exposição da sua imagem, sobre as quais empresas as identificam um grande potencial por sua comunicação direta em massa com crianças da mesma faixa etária. Não há melhor influenciadora digital do que as próprias crianças. Nesse sentido, também tem havido rotinas de gravação intensas, exposição a um ambiente tecnológico não infantil, relações mercantilizadas, divulgação do consumo associado ao ter, ao desejo e à felicidade.
Enfim, a exposição infantil nas redes sociais tem apresentado novas situações e trazido vários questionamentos para o debate de crianças no ambiente virtual, questões jurídicas, educacionais, psicológicas e éticas, fazendo a sociedade rever conceitos e ter que construir tantos outros.
Quais são as consequências de se expor a imagem e a vida da criança? Em um mundo cada vez mais dominado por tecnologia e redes sociais, seria precoce a exposição das crianças ou seria uma privação? Pode ser prejudicial ao desenvolvimento ou pode auxiliá-los? Existem limites e, em caso positivo, quais seriam? Ser um youtuber mirim é apenas uma nova forma de entretenimento infantil ou poderia ser configurado como trabalho artístico? Necessita maior regulação?
Todas essas perguntas – e tantas outras que surgem à medida dos acontecimentos – fazem parte dos desafios contemporâneos de educação e proteção. E precisam, enquanto sociedade, serem feitas a todo momento e debatidas, considerando os vários interesses envolvidos, o protagonismo infantil e um mundo tecnológico do qual não há como fugir.