O jornalismo sofreu os impactos dessa era pautada pela urgência. Diante das intensas transformações sociais e técnicas que o mundo vem passando, o jornalista e pesquisador Victor Rocha lançou o livro “Jornalismo Sensível: leituras plurais da realidade apresentada pelos afetos”, analisando este cenário.
Resultado de sua pesquisa de mestrado em Mídia e Cotidiano pela Universidade Federal Fluminense (UFF), o livro traz análises de textos de profissionais como Eliane Brum, Fabiana Moraes e Armando Antenore, sobre como sair da produção mecânica cotidiana para informar de maneira mais atrativa e completa.
O tema acompanhou Victor Rocha desde o Trabalho de Conclusão de Curso da universidade, em que ele pesquisou sobre Jornalismo Literário. “O Jornalismo Literário tem muitas vertentes e pesquisas, e as pessoas criaram categorias para tentar enquadrar ele, mas muitas vezes essas categorias não conversam. Ao fim do trabalho conclui que a Revista Piauí não fazia Jornalismo Literário segundo as métricas que eu estava usando. Então o que eles fazem? Tentei expandir esse pensamento e pesquisar sobre os tipos de jornalismo que estavam sendo feitos hoje”.
Com a pesquisa, o jornalista e escritor percebeu que utilizar a subjetividade de forma estratégica auxilia na criação de um material mais atraente. “Aprendemos que temos que abolir a subjetividade e ser o mais objetivo possível, entretanto, sabemos que não dá para eliminar totalmente. Sempre vai ter um certo nível de subjetividade nos textos, mas quando você usa de forma estratégica, consegue criar coisas muito mais atraentes”, afirma.
Jornalismo Sensível
Segundo Victor Rocha, o Jornalismo Sensível não é um gênero, mas sim uma forma de pensar o jornalismo. “É saber que o jornalismo não é feito somente pelo jornalista apesar de ter ele como um catalisador, mas também é feito pelas várias influencias em volta dele, como o editor e as pessoas que ajudaram na criação da pauta. Todos esses momentos do processo de criação tem subjetividades, e o jornalista soma tudo isso e transforma até criar um produto final”.
No caso do Jornalismo Sensível, a emoção que vai atingir o leitor também é levada em consideração. “É o ato de criar um conteúdo não pensando somente no acúmulo de conhecimento, como se fosse algo quantitativo com os dados, mas também como um material que vai impactar o leitor de várias formas”, explica.
Cotidiano acelerado
Por ser uma base de pensamento, segundo Rocha, o Jornalismo Sensível também pode ser aplicado em notícias curtas. “Você pode fazer uma notícia de consumo rápido e com poucos caracteres e levando em consideração o que o leitor vai sentir ao ler aquela notícia. Também levando em consideração que você não está fazendo aquilo sozinho e nunca vai ser 100% objetivo”, afirma.
A abordagem do Jornalismo Sensível também engloba como o conteúdo é produzido nessa geração. “A ideia seria pensar um caminho em que o jornalismo se entendesse com essa nova geração atravessada por fake news e batalha política, além do consumo acelerado de focar só na manchete e não ler o texto. Como manter a atenção dessas pessoas? Procurei elencar elementos que fazem ele ser não só o profundo, sensível e empático, mas também atraente. Um desses elementos é o efeito de estranhamento, trazer para as pessoas aquilo que é novo e coloque uma pulga atrás da orelha, despertando a curiosidade”, explica Rocha.
Imparcialidade
De acordo com o jornalista e autor, uma das coisas que faz o jornalismo existir e ser vendido é a credibilidade, mas a forma que se aplica a metodologia se distancia do cotidiano. “Quando se tem tempo e prazo, o jornalista fala com a fonte oficial e apresenta os números. Isso aos poucos vai descolando a comunidade do jornalismo, porque você considera a fonte oficial, mas não leva em consideração a comunidade que vai consumir seu jornalismo. Portanto, a parte da produção sensível diz respeito ao jornalista se envolver e não ser só produtivista. É importante ter esse tipo de olhar e pensar em outras formas de abordar o cotidiano”.
O fato de a comunidade passar a conhecer a metodologia de criação do jornalismo seria um diferencial, pois o padrão de fazer jornalismo está ficando mais industrializado e acelerado a cada dia. “Nós trabalhamos com a metodologia, mas as pessoas desconhecem. O que vai fazer a diferença é a pessoa entender e saber como o jornalista chegou naquela conclusão. Na Revista Piauí, por exemplo, em alguns textos o jornalista se coloca em primeira pessoa e explica o que passou para chegar em determinada situação. Também cito o Profissão Repórter como um outro trabalho em que é possível mostrar como o jornalismo é feito e a informação construída”, afirma Rocha.