Quando as máscaras caem

Reputações estão sendo observadas. É papel das agências de comunicação construir essa narrativa, orientar comportamentos, elucidar cenários e contar verdadeiras e boas histórias

Enquanto líderes, estamos sendo postos à prova como nunca. Nossos papeis foram ressignificados e outros se somaram, num piscar de olhos. Temos que dar a direção e o ritmo, não perder a cabeça ao ver o fluxo de caixa desconstruído, pedir a ajuda dos diretores enquanto lhes damos a segurança da permanência; somos aqueles que se preocupam com o sorriso e o olhar de cada um do time nas videocalls, enquanto apertamos a produtividade para sobreviver. Somos agressivos ao exigir o que nos é de direito no banco, enquanto pedimos empatia aos clientes e paciência aos fornecedores. E ainda limpamos a casa, ajudamos no homeschooling e damos amparo a todos da família, que vivem suas tensões individuais.

De uma hora para outra, fomos forçados a nos equilibrar no slackline e a cada dia recebemos mais um objeto pra segurar. Leis, notícias, perda de receita, instabilidade política, desaparecimento do crédito, sentimento de impotência… Muitas variáveis e muitos “ses” simultâneos causam imprevisibilidade de cenário.

Pra quem cuida de Comunicação, como eu, de repente são dezenas de crises dos clientes pra administrar e aconselhar. Todas ao mesmo tempo, de naturezas diferentes. É mais um MBA para a conta, valioso como nenhuma escola tem a oferecer. E nessas aulas online da vida real, a certeza de que estamos sob uma mesma tempestade, mas em vários barcos diferentes. Há quem esteja num transatlântico incapaz de fazer a curva a tempo, aqueles que num bote furado teimam em remar, os que pilotam a lancha aproveitando pra acelerar e aqueles que, mesmo em seu iate confortável, estão mentalmente paralisados. Generalizar é um erro. Temos que olhar individualmente cada contexto, cada perfil, cada plano.

A queda

Estamos de máscara, mas a máscara de muitos líderes caiu. E, ao cair, conheci lindas pessoas cheias de propósito genuíno, empatia e força mental. Mas vi também líderes imediatistas, sem capacidade de reação e porta-vozes inseguros. Considerar todos os stakeholders a cada tomada de decisão não é fácil, mas é o papel de um bom líder. Falta de tempo, falta de energia, caos familiar… Tudo atrapalha, mas nada disso pode justificar os maus pactos, as más decisões. Se liderar na bonança já é complexo, em tempos de crise podemos ver quem tem as competências que de fato fazem a diferença.

Lembre-se do que os comissários de bordo dizem sobre as máscaras de oxigênio: coloque em você primeiro, esteja bem, íntegro(a), saudável e, depois (sem demora), ajude os seus familiares, sua equipe que faz a diferença e, em seguida a comunidade ao redor das suas fábricas e escritórios. Depois, só depois, estenda essa ajuda na medida das suas possibilidades (financeiras e emocionais). Não pule etapas, porque não será de verdade e tudo que não é verdade não se sustenta. Não acelere demais, porque não estamos falando de um sprint de 50 metros e sim de uma maratona que não sabemos quanto tempo vai durar. Respire, mantenha o foco, seja consistente em relação ao que promete, porque vão cobrar.

Somos todos interdependentes. Não adianta doar máscaras e cestas básicas e não pagar os fornecedores em dia; o Twitter escancara isso. Não basta falar na live que não vai demitir e depois ser inadimplente e empurrar essa responsabilidade aos empresários com menos condições. Qualquer plano de ação é válido, desde que seja um plano bem construído.

Todos estamos atentos, tensos, irritados, confinados: investidores, funcionários, parceiros, formadores de opinião, governo e sociedade estão acompanhando seus atos e quanto mais as suas ações andarem próximas do seu discurso (walk the talk), mais sentido tudo fará e mais futuro sua empresa terá.

Narrativas

O consumidor passará a ser mais seletivo e detalhista em relação ao que compra. Perguntas que poucos líderes achavam importantes serão essenciais, como: por que essa marca existe e como ela ganha dinheiro? Que causas ela defende? Como ela trata seus funcionários? Como ela contou essa história toda durante a pandemia? Quem é seu líder e quais as suas posições?

Minha dica feminina é simples: se temos menos capacidade de prever, ainda temos muita capacidade de sentir e de intuir. Pois aproveitemos para voltar à origem e sentir, antes de decidir e sair remando sem rumo: o que seu negócio tem de especial? Quem faz a diferença para sua empresa entregar o que promete? Quem mantém a calma e o otimismo para tornar o dia a dia mais prazeroso? Que mudanças na operação você adotou e podem perpetuar depois da pandemia? O que as empresas do seu setor estão fazendo em outros países em que o mercado já está abrindo? O que dizem os estudos de tendências de comportamento sobre o seu setor? Como está o seu time em relação a tudo que estamos vivendo? Você mede a satisfação e a angústia deles semana a semana?

Reputações estão sendo observadas. É papel das agências de comunicação construir essa narrativa, orientar comportamentos, elucidar cenários e contar verdadeiras e boas histórias. E histórias de verdade nascem de dentro da empresa para fora. É o time que valida os fatos, que dá eco às boas práticas, que defende a empresa quando acredita na sua liderança.

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