A mente 360º do homem da Pan

Como o presidente Tutinha encara os riscos, desafios e polêmicas na gestão do grupo de comunicação, que completa 75 anos à beira da fase mais digital e disruptiva de sua história

No 24º andar do edifício Sir Winston Churchill, na Avenida Paulista, Antônio Augusto Amaral de Carvalho Filho, o Tutinha, atravessa o corredor da rádio Jovem Pan à frente de um grande vidro onde, concentrados, dezenas de funcionários estão em seus computadores.

Há mais de quatro décadas atuando na empresa, assumiu a presidência do grupo em 2014, no lugar de seu pai, Antônio Augusto Amaral de Carvalho, o Seu Tuta. Seis anos após a mudança, acumula pontos de renovação na estrutura da empresa. As novidades vieram na grade, na linha editorial, no formato dos programas e, principalmente, na estrutura digital da então rádio Jovem Pan.

“Há uns cinco anos compramos uma câmera e instalamos no estúdio – e todo mundo foi atrás”, comenta o executivo, para contextualizar a fase audiovisual da emissora. De rádio para TV, agora a Jovem Pan, aos 75 anos de idade, está prestes a fazer nova revolução: vai estrear a plataforma Panflix, um produto que será o agregador de todos os conteúdos digitais da empresa.

A revista Negócios da Comunicação foi recebida nos novos estúdios, no 20o andar, que vão receber o novo produto, ainda com cheiro de novidade e móveis plastificados, onde falamos com Tutinha sobre a estrutura comercial, os produtos e ramos de atuação do grupo, os riscos da nova etapa do modelo de negócio e os desafios diários de produzir conteúdo em um momento em que a audiência está polarizada em termos políticos.

O grupo Jovem Pan investiu R$ 30 milhões em estúdios, equipamentos e softwares para a chegada do Panflix. O que já pode ser dito sobre a expectativa relacionada à nova plataforma?

O Panflix é o agregador de conteúdo da Jovem Pan – é um nome fácil, que pega, tem Pan no meio (e Pan, é tudo). Mostra o que a gente vai fazer: um Netflix de conteúdo. O Panflix vai ser lançado em meados de janeiro, para podermos disponibilizar o aplicativo em sua melhor forma possível. O app é desenvolvido por uma empresa grande, internacional, responsável por fazer produtos de fora do Brasil. E o nome só vai ser bom se der certo, não é (risos)?

Quais os desafios que já se desenham para essa primeira etapa da plataforma de conteúdo?

Somos muito fortes em news. Ocupamos o primeiro lugar no YouTube nessa categoria – no trimestre, são 45 milhões de unique visitors e 600 milhões de views. E estamos em nível médio na categoria entretenimento. Em 2020, vamos ter que melhorar muito nesse segmento e esse é o desafio: fazer mais programas.

Os números comprovam a atividade frenética da Jovem Pan no YouTube. Com a chegada do Panflix, o que muda nessas rotinas?

O Panflix é um agregador de conteúdo, mas que vai estar sobre o player do próprio YouTube. A pessoa que está na plataforma vai ter mais atrações para ficar assistindo num mesmo lugar, os vídeos mais assistidos do dia, etc. Não vai ser preciso ir até o outro app e digitar o programa, vai ser mais fácil de ver tudo. Quanto à audiência, vai somar com a já existente no YouTube.

Com esses índices de audiência digital, o grupo recebe valores dos canais de monetização da plataforma? Ela atua em paralelo com o departamento comercial no espaço digital?

Recebemos um valor bom, mensal, que vem do YouTube. Sobre os departamentos comerciais, fizemos dois: um que é só digital. Dividimos por cliente e por gênero, agro, hospitalar, farmacêutico, automotivo, etc. Montamos dois times no comercial: um mais acostumado com o modelo da rádio e outro mais jovem, com uma turma mais ligada ao digital.

Vocês separam rádio, do restante da operação digital, em termos de faturamento?

Não, até agora ainda não, mas vamos separar no futuro. O Panflix será uma nova empresa.

Como a rádio vem mudando para vivenciar esse novo momento?

A Jovem Pan vem se transformando – nunca teve diretor de Marketing, por exemplo, agora tem. Trouxemos uma pessoa, a Claudine Bayma, que trabalhou dez anos fora do Brasil, na Sony, na Globo. Nossa visão vem se transformando completamente do que era há um ano. Acho que é uma transformação tão grande que a gente vai dar risada no futuro do que está fazendo hoje, uma mudança de comportamento, pensamento e de atitude.
É uma atitude muito diferente do que o rádio tem, com mais processo, mais pensamento no futuro, com análise de tudo, onde se pondera se dá para fazer ou não, por exemplo. Vamos fazer uma coisa inédita também: que é a primeira transmissão em vídeo do carnaval em São Paulo, Rio de Janeiro e Salvador. A Jovem Pan tem uma chave para virar, hoje é um veículo 360o: internet, áudio, rádio, vídeo, podcast, social media.

Para ser possível executar todos esses projetos, será necessário crescimento na equipe, correto?

Já estamos vivenciando um aumento grande no número de profissionais. Crescemos bastante em funcionários – o que é algo significativo: enquanto o mercado cai, a gente cresce. Estávamos em 250 no início do ano e agora estamos beirando os 300 funcionários. Estamos arriscando.

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