Cobrir o setor de saúde exige não só apuração precisa de termos técnicos e especificidades dentro do vasto leque de abordagens, mas, principalmente, a consciência sobre o peso da responsabilidade que essas informações possuem. “Precisamos manter um olho nos comportamentos e tendências da sociedade e do mercado, e outro nas evidências científicas”, diz Diogo Sponchiato, redator-chefe da revista Saúde e um dos vencedores no Prêmio Especialistas. Para o jornalista que cobre essa área, mais do que conhecer as particularidades do setor, é preciso saber reconhecer o que diz a ciência e analisar dados. Com temas complexos, que interferem na qualidade de vida da população, o cuidado com a informação é condição sine qua non.
Para Claudia Colucci, repórter da Folha de S.Paulo, também premiada na categoria saúde, estar bem informado e ficar atento aos inúmeros conflitos de interesse entre indústria e setor público são os principais desafios para o jornalista dessa área. “Os dois lados tendem a ‘dourar suas pílulas’, maximizar eventuais de benefícios e minimizar riscos. É obrigação do bom jornalista avaliar se aquilo tem realmente evidência cientifica de que funciona, falar sobre riscos e benefícios, falar sobre custos, dar alternativas mais baratas. Por isso, é fundamental que o jornalista saiba avaliar cada vez mais, é preciso que o jornalista que cobre saúde invista também no jornalismo de dados, que saiba ir além do que as fontes oficiais dizem e, principalmente, confrontá-las com informações fidedignas”, completa a jornalista.
O jornalista Diogo Sponchiato também reforça a importância do bom jornalismo para que o público não tenha acesso somente a modismos e especulações, algo comum nesse segmento. “Creio que o grande desafio do jornalismo de saúde é contextualizar tendências e descobertas da ciência para que a população se conscientize e se inspire a ter uma vida mais saudável – ainda mais numa época de tantas vozes e modismos como os propagados nas redes sociais” reforça. Para ele, esse é um trabalho que exige formação e atualização contínua e que desafia o jornalista a manter o equilíbrio entre o que diz a ciência e o que pede a audiência.
Diogo Sponchiato recebe troféu de Renan Magalhães, da Bayer, durante Prêmio Especialistas
De olho nas pautas
Claudia Colucci, da Folha de S.Paulo, acredita que o jornalista de saúde pode atuar com todas as editorias de um veículo, o que possibilita falar sobre os diversos assuntos dentro de saúde. “Por exemplo, pode escrever sobre novas descobertas e tratamentos na editoria de saúde/ciência, sobre a falta de acesso aos serviços de saúde e aumento de planos de saúde na editoria de cidades, sobre o mercado de saúde na editoria de economia, sobre um problema de saúde de um jogador famoso na editoria de esportes ou de um presidente, na editoria de política” diz.
E como conseguir as melhores pautas? Para Claudia, as pautas vêm de muitas fontes, dos estudos publicados em periódicos científicos, das universidades, dos serviços de saúde e dos profissionais que ali atuam, dos governos e, principalmente, dos leitores. Sponchiato também cita esses mesmos caminhos para conseguir as melhores notícias. Para ele, além de receber informações por meio das fontes, é necessário analisar o que é recebido. “Buscamos captar e avaliar comportamentos e consumos que viram mania nesse segmento, muitos deles sem qualquer base científica”, completa o jornalista.
Por falar em pautas, os jornalistas compartilham aqui quais foram os principais e mais desafiadores assuntos que estiveram nas manchetes deste ano. Sponchiato relembra que as doenças transmitidas pelos mosquitos continuaram em alta, desta vez com o surto de febre amarela. Para o especialista, outra questão crítica foi o aumento na incidência de DSTs, sobretudo a sífilis. “E há que se destacar o contínuo crescimento nos índices de obesidade e diabetes no Brasil. No campo terapêutico, uma boa promessa veio com a imunoterapia, aumentando chances de cura contra alguns tipos de câncer”, completa.
Claudia teve muitos momentos desafiadores este ano na carreira que, com certeza, colaboraram para que ela fosse uma das vencedoras do Prêmio Especialistas. “Realizei um levantamento exclusivo que obtive junto ao Ministério da Saúde dando conta de que o país registra por dia dez estupros coletivos. Outro assunto muito importante levantado foi que, mesmo com liminares que garantem acesso a medicamentos não previstos no SUS, o acesso está travado pelo descumprimento do ministério. Outro tema igualmente importante foi a retirada do mercado de remédios bons e baratos porque já não mais dão lucro à indústria farmacêutica”, conta a jornalista.
Perspectivas
E não tem como falar com dois jornalistas especializados em saúde e não perguntar quais são as perspectivas para o setor em 2018. “Esperamos que, com o reaquecimento da economia, consigamos desenvolver mais projetos robustos de educação em saúde e continuar as discussões tão relevantes nesse setor, assim como seguir com a divulgação dos avanços da medicina e de um estilo de vida calcado na prevenção” diz Diogo Sponchiato.
Para Claudia Colucci, o país passa por um momento ainda difícil, tanto do ponto vista político quanto econômico, o que torna complicado qualquer tipo de previsão. “O ano de 2018 será um ano importante para saúde pública brasileira. O SUS completa 30 anos e, mais do que nunca, precisa ser fortalecido, defendido. Nessas três décadas, melhoramos muito indicadores (como a taxa de moralidade infantil) graças ao SUS. Ainda há muitos problemas, mas não se pode retroceder nessas conquistas”, conclui.
Entrevista
O setor de saúde complementar é um dos mais atingidos quando um país passa por crises políticas e econômicas. Solange Guimarães, superintendente de Comunicação da Sulamérica Seguros, conversa com a Negócios da Comunicação para falar dos impactos da crise no segmento, o que a empresa tem feito para se ajustar a essa realidade e quais são os desafios e as perspectivas para 2018. Confira a entrevista abaixo.
1 – As empresas brasileiras enfrentam a realidade complexa do cenário da saúde há anos. Os planos de saúde sofrem reajustes vinculados à inflação médica, sempre muito acima da inflação oficial (seja o IPCA ou IGP-M). De que forma esses números impactam empresas como a SulAmérica?
O mercado brasileiro de saúde suplementar, que provê cobertura assistencial para mais de 48 milhões de pessoas, enfrenta, de fato, desafios complexos. Nós defendemos um debate em sociedade que leve à construção de um modelo mais sustentável e eficiente, de modo que o sistema seja gerido e acessado adequadamente, prezando pela prática médica de excelência, com base em evidências, e pelo bem-estar e melhor encaminhamento clínico dos beneficiários. Diante dos desafios atuais nesse segmento, a estratégia da SulAmérica tem sido adotar uma gestão bastante equilibrada de subscrição, saúde e sinistralidade, sempre com uma visão de longo prazo, por meio da qual mantivemos, mesmo no atual cenário macroeconômico, bons resultados em termos de crescimento de carteira e receitas operacionais. Neste ano, alcançamos três milhões de beneficiários nos segmentos de Saúde e Odonto, o que consolida a SulAmérica entre as maiores operadoras do país.
2 – O que a empresa tem feito para se ajustar a essa realidade? Como manter qualidade e preços compatíveis ao mercado?
A experiência do cliente é prioridade em nossa estratégia. Priorizamos as necessidades do segurado em todas as etapas do negócio, desde o desenvolvimento de portfólio e a composição da rede referenciada até o relacionamento pós-contratação, visando oferecer a ele uma percepção de cuidado integrado, excelência operacional e constante inovação. Dentro dessa jornada do beneficiário na SulAmérica, um grande diferencial tem sido a nossa forte atuação em gestão de saúde e qualidade de vida por meio do programa Saúde Ativa, que apoia o segurado na adoção de um estilo de vida saudável e equilibrado. Podemos destacar, ainda, os investimentos consistentes da SulAmérica em tecnologia e serviços digitais para tornar a utilização do plano de saúde cada vez mais ágil e simplificada. O resultado tem sido, sem dúvidas, uma maior satisfação do cliente, o que tem refletido em aumento de vendas novas e alto índice de retenção.
3 – De que forma o cenário econômico afeta as empresas de seguros? Desemprego gera menor necessidade por convênios. Como trabalham essa questão?
O baixo desempenho da economia nacional gerou um ambiente desfavorável aos negócios e trouxe desafios para todos os setores, incluindo o de saúde suplementar, que perdeu mais de 1,5 milhão de beneficiários no ano passado, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Mesmo diante desse contexto, a SulAmérica conseguiu manter uma trajetória de crescimento sustentável nos segmentos de planos de saúde e odontológicos. Os números consistentes que apresentamos nos últimos anos e em 2017 nesse segmento resultam de uma estratégia de longo prazo, voltada ao equilíbrio e à sustentabilidade da operação.
4 – Quais os principais desafios do setor e, consequentemente, quais são os principais desafios da empresa?
Estamos convictos do potencial desse mercado, que ainda se encontra subpenetrado. Somente 25% da população brasileira está coberta pelo seguro saúde e 11% pelo odontológico, segundo a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Uma pesquisa recente do Ibope, encomendada pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS), confirmou que o plano de saúde permanece o terceiro maior desejo dos brasileiros, ficando atrás somente da casa própria e da educação. Dessa forma, entendemos que o principal desafio do setor esteja no âmbito estrutural, envolvendo a necessidade de um modelo de saúde suplementar mais sustentável e eficiente. Além disso, é importante fomentar cada vez mais no país uma cultura de prevenção às doenças e adoção de hábitos equilibrados, de modo que as pessoas cuidem melhor da própria saúde, e essa tem sido uma bandeira da SulAmérica há 15 anos, quando foi criado o Saúde Ativa.
5 – Quais as perspectivas para o setor em 2018? E, em relação à SulAmérica, quais os principais investimentos realizados pela empresa neste ano e quais serão os principais para o ano que vem?
Os indicadores de mercado sinalizam um aumento de confiança na economia. Nós seguiremos investindo em gestão de subscrição, programas de saúde e controle de sinistralidade, com um olhar atento à inovação tecnológica, às melhorias operacionais e à intensificação da nossa força nacional de vendas. A força na nossa marca, a qualidade de nossos produtos e serviços, o estreito relacionamento cultivado com os corretores de seguros e a presença comercial nas mais de 90 filiais em todo o Brasil são alguns dos fatores que nos mantém confiantes.