Em abril de 2005 surgia na internet o primeiro vídeo do YouTube. Com 19 segundos, mostrava o passeio no zoológico de um dos fundadores da plataforma, Jawed Karim. Pouco mais de dez anos depois, o YouTube passou de plataforma de entretenimento a um negócio que movimenta os mercados de produção de conteúdo e publicidade.
O sucesso do site de vídeos está diretamente relacionado com a democratização da internet e com o maior acesso através de dispositivos móveis — hoje, mais da metade da audiência do YouTube parte de smartphones. Além disso, trata-se de uma plataforma com uma audiência fiel — o volume de conteúdo já chega a 500 horas de vídeo por minuto, com mais de um bilhão de usuários.
O brasileiro passa, em média, oito horas por semana no YouTube, consumindo clipes musicais, conteúdo de televisão exclusivo para a internet, variedades e, principalmente, os vídeos de canais autorais. O YouTube tornou-se a porta de entrada para o mundo do empreendedorismo pessoal, quem se destaca na plataforma consegue ir além.
Felix Kjellberg, comediante sueco dono do canal PewDiePie, faturou 15 milhões de dólares em 2016 graças ao trabalho na plataforma e se tornou o youtuber mais bem pago do mundo
Felix Kjellberg, comediante sueco dono do canal PewDiePie, faturou 15 milhões de dólares em 2016 e se tornou o YouTuber mais bem pago do mundo. No Brasil, o segundo maior consumidor de vídeos, quem “manda” é Whindersson Nunes — que faz seus vídeos apenas com uma câmera GoPro — e está próximo de atingir 15 milhões de inscritos em seu canal.
Os influenciadores digitais, que antes existiam apenas dentro do universo do YouTube, passaram a conseguir contratos publicitários, vídeos pagos, além da expansão para outros ambientes. Muitos lançaram livros, filmes, produtos próprios e transformaram seu status em um dos mais desejados – tanto por outros aspirantes quanto para as principais agências e marcas. Todos querem um pouco do YouTube.
O YouTube tem mais de um bilhão de usuários, quase um terço dos usuários da internet
E a empresa, hoje parte do Google, quer dar aos produtores de conteúdo toda a estrutura necessária. Por isso, foi criado o YouTube Space, um ambiente para que os youtubers possam gravar, editar e publicar seus vídeos utilizando uma estrutura profissional. No Brasil, São Paulo já tem um espaço, dividido com o Instituto Criar, por onde já passaram cerca de 3 mil criadores por trimestre. O próximo passo é a inauguração do YouTube Space no Rio de Janeiro, no primeiro semestre de 2017. Desde março de 2015, os criadores de conteúdo que filmaram nos YouTube Spaces produziram mais de 10.000 vídeos, gerando 1 bilhão de visualizações e mais de 70 milhões de horas de exibição.
Com mais de 15 anos de experiência na área de comunicação, e passagens nas maiores emissoras de TV do Brasil, como SBT, Globo, Bandeirantes e Cultura, Eduardo Brandini é hoje o diretor de conteúdo do YouTube Brasil. Em entrevista à Negócios da Comunicação, ele fala sobre as iniciativas da plataforma, o fenômeno dos influenciadores digitais, o perfil do usuário brasileiro e a receita para o sucesso da nova geração. Confira.
Como o YouTube enxerga o fenômeno dos influenciadores, tanto no Brasil como no mundo? Há particularidades da influência de cada um?
O YouTube se importa muito com seus criadores e está constantemente procurando maneiras de promover, mostrar e celebrar o trabalho dos youtubers, seja por meio de campanhas de marketing ou de investimentos nos YouTube Spaces ao redor do mundo.
Uma prova da influência dos criadores é a pesquisa Influencers, realizada pela Provokers e encomendada pelo Google. No ranking das dez celebridades mais influentes entre jovens, cinco são youtubers. Além disso, no top 3 do ranking, dois são youtubers: Whindersson Nunes e Coisa de Nerd. Acreditamos que o YouTube é uma plataforma democrática, com espaço para todos e para qualquer assunto, desde que esteja de acordo com os termos de uso. Cada youtuber tem um tipo de influência sobre sua audiência de acordo com as particularidades de cada público.
Qual é o perfil do usuário brasileiro? E de que maneira as marcas e vloggers devem utilizar isso?
O YouTube tem mais de um bilhão de usuários, quase um terço dos usuários da Internet e, a cada dia, as pessoas assistem a milhões de horas de vídeos no YouTube e geram bilhões de visualizações. No mundo, o YouTube para dispositivos móveis atinge mais adultos de 18 a 34 anos e de 18 a 49 anos que qualquer rede a cabo nos EUA. Já o tempo de exibição do YouTube tem crescido pelo menos 50% a cada ano por três anos consecutivos. O Brasil já é o segundo mercado em relação ao tempo de consumo de vídeo, apenas atrás dos Estados Unidos. Nossas pesquisas mostram que autenticidade, originalidade, inteligência e humor são, na opinião dos jovens, as características mais importantes na definição de uma personalidade. Por isso, marcas e youtubers já enxergam essa realidade para criar um diálogo efetivo com a audiência.
Como o crescimento desses influenciadores é acompanhado e principalmente identificado?
O YouTube está constantemente em contato com os criadores, com os cursos e eventos que estimulam o desenvolvimento da produção e administração dos canais. Além disso, realizamos diversos estudos para identificar verticais e temas que estão em alta. Um destes estudos, também realizado com a Provokers, traz informações e números do Brasil de canais de games, música, beleza&moda e culinária. Esses dados mostram ao mercado a força que esses criadores possuem. Todas as informações podem ser acessadas no Think With Google.
A remuneração aos criadores é possível graças ao Programa de Parceiros, que ajuda empreendedores de vídeos on-line e permite que eles autorizem a monetização dos seus vídeos e canais
O YouTube tem promovido diversos influenciadores em mídia de rua. Qual a estratégia por trás dessa abordagem? E qual tem sido o retorno?
A estratégia é mostrar o papel do YouTube e de seus criadores como uma plataforma poderosa para a construção de marca. Para isso, sempre escolhemos criadores que representam a comunidade ativa do YouTube. As campanhas de maio e setembro deste ano estiveram presentes em todo o out of home de São Paulo, além de veículos impressos de abrangência nacional e também no digital, contando com a participação dos youtubers Whindersson Nunes, JoutJout, Ana Maria Brogui e Coisa de Nerd.
O YouTube é hoje uma plataforma de empreendedorismo. Como isso tem se estruturado dentro dos projetos da empresa, a exemplo do YouTube Space?
Incentivamos a produção de vídeo pelos criadores e acreditamos que com ferramentas todos são capazes de produzir conteúdo de qualidade. Por isso, temos o Centro de Criação, que oferece recursos que vão ajudar a produzir vídeos, conectar com a audiência e expandir um canal. Temos também a Escola de criadores de conteúdo, um portal para que os youtubers aprendam com dicas dos principais criadores. As aulas são sempre atualizadas e podem ser vistas a qualquer hora. Além de tudo disso, temos o YouTube Space em São Paulo, um espaço para fomentar o aprendizado e aproximar a comunidade. O YouTube Space oferece workshops gratuitos a qualquer criador, além de oferecer um estúdio de gravação, ilhas de edição e todo o auxílio da equipe do YouTube Space.
Cada vez mais usuários buscam oportunidades com um canal. Quais são os caminhos hoje para a monetização de uma página? Estão sendo desenvolvidos novos recursos com esse objetivo?
A remuneração aos criadores é possível graças ao Programa de Parceiros, que ajuda empreendedores de vídeos online e permite que eles autorizem a monetização dos seus vídeos e canais. Ou seja, se o criador optar por gerar renda com seus vídeos, o YouTube vai inserir anúncios nos vídeos e a maior parte da receita gerada com os anúncios visualizados fica com o YouTuber. Essa é uma opção que visa beneficiar todos os criadores, independente do tamanho do canal, desde que atendam aos requisitos para gerar receita com seus vídeos. Nesse caso, os vídeos monetizados do YouTube podem exibir anúncios. O criador de conteúdo não é pago pela visualização de conteúdo, mas sim dos anúncios. Para começar a receber pagamento, o criador precisa apenas associar uma conta do Google AdSense a sua conta do YouTube.
Desde a sua criação, a ferramenta YouTube Content ID permitiu o pagamento de 2 bilhões de dólares a detentores de direitos autorais
Com 1 bilhão de usuários e 500 horas de vídeo por minuto, quanto e como o YouTube tem investido em estrutura tendo em vista o crescimento da produção de conteúdo?
Um dos exemplos é a abertura de diversos centros do YouTube Space ao redor do mundo. No final de 2014, inauguramos o espaço em São Paulo e desde então recebemos aproximadamente três mil criadores que buscam aperfeiçoar seus canais, realizar colaborações ou aprender com aqueles que já estão há um tempo na plataforma. Em questões de investimento, podemos adiantar que, no Brasil, além do YouTube Space em São Paulo, teremos o segundo Space no País, no Rio de Janeiro, ainda em 2017.
Como controlar esse grande volume, principalmente no que compete a direitos autorais?
O YouTube é claro em relação às políticas que competem os direitos autorais e pede que seus criadores estejam cientes dos termos de uso da plataforma.Nós publicamos uma atualização do relatório global “Como o Google Combate a Pirataria”, que explica nossos programas, políticas e tecnologias para combater a pirataria online. O grande destaque é a ferramenta YouTube Content ID, que permitiu pagamento de 2 bilhões de dólares a detentores de direitos autorais desde seu lançamento.
Muito se discute sobre a “qualidade” do conteúdo que faz sucesso na rede, mas no fim o que importa é a audiência. É possível hoje definir a receita certa para ter milhões de visualizações?
Youtubers bem sucedidos são grandes contadores de histórias, têm um conteúdo de qualidade, inovam no formato e se dedicam a seus canais. Algumas boas práticas para conquistar mais visualizações incluem: subir vídeos regularmente na plataforma e fazer vídeos em colaboração com outros youtubers para alcançar novos públicos, mas o que conta é a autenticidade.
Ainda segundo nossas pesquisas, os principais atributos que tornam uma personalidade influente para os jovens estão ligados à singularidade: autenticidade, originalidade, senso de humor e inteligência representam juntos 54% do “peso” da influência, características que não faltam aos youtubers.