Felicidade Corporativa como Pilar Estratégico nas Organizações

Integração entre bem-estar, produtividade e resultados mostra que a Felicidade Corporativa deixou de ser conceito abstrato para se tornar uma estratégia essencial nas organizações

Por Cristine Castro

Quando falamos em Felicidade Corporativa, talvez algumas pessoas possam ter um entendimento equivocado sobre o que realmente significa. Pode parecer algo pouco pragmático ou até mesmo etéreo, visto que quando falamos de Felicidade, temos interpretações distintas para a palavra e parece ser difícil tangibilizar. Mas em um cenário corporativo cada vez mais desafiador, complexo e dinâmico, a Felicidade Corporativa emerge como um elemento fundamental para o sucesso organizacional sustentável. Principalmente pós-pandemia, quando o Brasil, por exemplo, passou a ser o país mais ansioso do mundo, segundo a OMS. E os títulos não param por aí. Somos o segundo país mais estressado e com maior nível de burnout. Também somos o quinto em depressão, segundo a mesma fonte. 

Diante de todo esse contexto, é importante deixar claro o que é e o que não é Felicidade Corporativa. Este conceito, que transcende a simples satisfação momentânea, representa uma abordagem estratégica que integra bem-estar, produtividade e resultados duradouros, inclusive financeiros.

Para compreender a dimensão da Felicidade Corporativa, é essencial reconhecer que ela se manifesta quando os colaboradores encontram verdadeiro propósito em suas atividades, desenvolvem-se continuamente tanto no âmbito pessoal quanto profissional, conseguem equilibrar vida pessoal e profissional, sentem-se reconhecidos e valorizados por suas realizações na organização e estabelecem conexões significativas no ambiente de trabalho. Acredito que podemos traduzir essas conexões significativas como relacionamentos de qualidade, baseados em confiança e respeito.

Martin Seligman, considerado o pai da Psicologia Positiva, estabelece que a verdadeira felicidade no trabalho está fundamentada em três pilares essenciais: vida prazerosa, vida engajada e vida significativa. Segundo ele, “quando as pessoas encontram significado em seu trabalho, elas não apenas se tornam mais produtivas, mas também mais resilientes diante dos desafios”. E se levarmos em consideração todo o contexto mencionado no início deste texto, a resiliência com certeza é uma competência mais do que necessária a um profissional atualmente.

Annie McKee, autora de “How to Be Happy at Work”, enfatiza que “líderes que priorizam a felicidade de suas equipes criam um ambiente em que a inovação floresce e os resultados excepcionais se tornam a norma”. Ela identifica três elementos cruciais para a felicidade no trabalho: um senso de propósito, uma visão esperançosa do futuro e relacionamentos amigáveis. Aqui eu trocaria os relacionamentos amigáveis, por relações de qualidade com respeito e confiança, conforme já mencionei no terceiro parágrafo deste texto.

Altos níveis de engajamento melhoram o resultado financeiro

Dados recentes corroboram estas perspectivas teóricas. Segundo pesquisas do Gallup, organizações com altos níveis de engajamento e bem-estar apresentam resultados financeiros 21% superiores à média do mercado, reduzem o absenteísmo em 41% e aumentam significativamente a retenção de talentos, com índices 59% mais elevados que a média do mercado.

Além dos indicadores financeiros positivos, observa-se maior engajamento dos colaboradores, fortalecimento da marca empregadora e incremento nos níveis de inovação. O atendimento ao cliente também se beneficia diretamente, pois colaboradores felizes tendem a proporcionar experiências mais positivas aos clientes.

As pesquisas também destacam que aproximadamente 40% da nossa felicidade está sob nosso controle direto, por nossas escolhas e ações intencionais. No contexto corporativo, isto significa que as organizações têm um papel significativo na promoção do bem-estar de seus colaboradores. E obviamente os líderes exercem um papel fundamental.

Liderança Compassiva

A Liderança Compassiva emerge como competência fundamental neste contexto. Entenda-se Liderança Compassiva como aquela em que o líder tem uma abordagem de gestão humanizada que prioriza o bem-estar dos colaboradores, promovendo segurança psicológica, empatia e apoio emocional, ao mesmo tempo em que busca alcançar os objetivos da organização. Em resumo, os gestores são cada vez mais demandados a desenvolver habilidades de escuta ativa e empatia, estabelecendo conexões genuínas com suas equipes, ou seja, a liderança por controle rígido não tem espaço dentro deste contexto.

Outros aspectos importantíssimos quando falamos de Felicidade Corporativa são as questões de: reconhecimento e balanço entre vida profissional e pessoal. Organizações bem-sucedidas implementam programas estruturados para celebrar conquistas e valorizar contribuições individuais e coletivas, criando um ambiente no qual os colaboradores se sentem verdadeiramente valorizados. Mas as conquistas dos colaboradores não são obtidas por meio de um trabalho que faz com que o profissional esqueça que tem vida pessoal. Este equilíbrio entre a busca por resultados e a manutenção do bem-estar é fundamental, porém, extremamente desafiador, pois, como já foi mencionado, estamos vivenciando um contexto de mercado extremamente dinâmico e complexo. Logo, a saúde mental deixou de ser um tema secundário e passou a ocupar um lugar de destaque nas discussões sobre desenvolvimento organizacional, com empresas implementando programas robustos de suporte psicológico, por exemplo.

É possível mensurar os resultados da Felicidade Corporativa

Podemos concluir que a jornada da Felicidade Corporativa não é isenta de grandes desafios. Tratar, por exemplo, a questão do trabalho híbrido versus a conexão entre as pessoas; mensurar os resultados que, às vezes, são realmente subjetivos; pensar nas iniciativas e soluções que atendam diferentes perfis de colaboradores são somente alguns dos obstáculos encontrados neste caminho. O sucesso da implementação de programas de Felicidade Corporativa requer, sem dúvidas, um compromisso genuíno da alta liderança, direcionamento de recursos adequados e uma visão de médio e longo prazo. 

Cabe salientar que o campo da Felicidade Corporativa está em constante evolução e certamente quanto mais pesquisas e insights sobre o tema, maiores são as chances da aplicação bem-sucedida. Particularmente, eu acredito que, mais que um diferencial competitivo, a Felicidade Corporativa torna-se cada vez mais um imperativo estratégico, em que as organizações que conseguirem compreender este conceito e tangibilizá-lo, criarão um ciclo virtuoso, no qual os colaboradores realizados geram resultados diferenciados e suportam a sustentabilidade e perenidade dos negócios.

 

Cristine Castro é diretora de RH – Business Partner – na Syngenta Crop Protection. Psicóloga, com especialização em Gestão Estratégica de RH, MBA em Gestão Empresarial pela FGV e Mestrado em Administração com Foco em
Gestão de Pessoas e Organizações.

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