Ainda não sabemos exatamente quando e como as quarentenas vão acabar, nem quando será o “Dia da Volta” definitivo. A pandemia mudou o mundo de forma tão violenta que a pergunta agora não é só a data, mas para qual realidade voltaremos. E todos já aceitamos que quase nada voltará a ser o que já foi. As lideranças conscientes já se movem, cientes de que este é o momento inevitável do “turning point” de suas organizações.
Esse ponto de inflexão causa o temor natural diante dos enormes desafios que impõe. Muitas empresas correm o risco de sucumbir se não conseguirem promover essa virada. Algumas outras, por sua vez, poderão acelerar por um caminho de impensáveis avanços. Para todas, o urgente é repensar sua forma de atuação e reforçar o alinhamento com o seu propósito. É um desafio não só para os clientes das agências de comunicação, mas também para elas próprias.
Mas direcionar a empresa para onde? O que vai ser a nova realidade? O mundo vivia uma transformação vertiginosa já antes da pandemia. A humanidade vem sofrendo revoluções em ciclos cada vez mais curtos, impulsionados pelas novas tecnologias. Engrenar o “turning point” neste momento não significa adivinhar o futuro. Mas se antecipar a ele.
É difícil se preparar para o que possa existir no fim do túnel da quarentena. Porém, a evolução recente no mundo dos negócios e a atual crise global já nos dão pistas: o tal Novo Normal trará, no mínimo, a aceleração das tendências e disrupções que já estavam em curso.
Aqui entra o primeiro ponto do “turning point”: a tecnologia. O mundo pós-pandemia certamente acentuará a velocidade com que se impõem a “Indústria 4.0” e sua reinvenção digital. E impulsionará ainda mais os chamados “BABIVs” (o Blockchain, a Inteligência Artificial, o Big Data, a Internet das Coisas e a Realidade Virtual/Aumentada). E consolidará como herança da Covid-19 a realidade do “Sistema da Economia Sem-Contato” em uma série de atividades, desde o ensino virtual, as videoconferências e o e-commerce até as plataformas de transações financeiras e a telemedicina. Na área de comunicação, é impensável um futuro da atividade desvinculado das novas tecnologias.
Mas também não é possível se preparar para uma nova realidade sem que as empresas repensem seu papel e seu valor autêntico. A corrente de doações e ações sociais corporativas no enfrentamento dos estragos da pandemia na sociedade felizmente mobilizou um contingente enorme de companhias. O que vai ficar de concreto quando a temporada do “Solidariedade S/A” acabar? Juntamente com uma das maiores crises globais econômicas e de saúde da história, o mundo vive um turbilhão de instabilidades sociais e políticas com discussões, acima de tudo, sobre valores _do “Black Lives Matter” à defesa da democracia e aos Slepping Giants. As cabeças corporativas e suas equipes têm a missão de se autoavaliarem e entenderem o seu papel neste contexto, que inclui a influência nas decisões políticas, econômicas e sociais das quais dependerá o futuro.
Avançar em meio a incerteza vai requerer um exercício intenso de reflexão. Será que o pior já passou? Como recuperar e relançar minha atividade? E como gestiono isso em relação à necessidade de investir nas demandas trazidas pelo novo contexto? Como reorganizo as pessoas das equipes e as mantenho motivadas na travessia do “turning point”? E um aspecto muito importante que a experiência atual de muitas companhias nos tem mostrado nesta crise: como continuar respondendo à expectativa da sociedade por organizações que desempenhem cada vez mais seu papel social e cidadão, comprometido e constante, alinhado com um propósito corporativo autêntico?
A transformação drástica da sociedade com a tragédia da pandemia nos obriga a nos mover e a tentar reagir. A comunicação e as empresas do setor têm não só o papel de apoiar essa travessia dos clientes, mas de fazer a sua própria. A nova realidade talvez fique menos nebulosa quando avançarmos no desafio de nos repensar.