De a acordo com informações do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS 2014), mais de 100 milhões de pessoas não têm acesso à coleta de esgoto no Brasil. Os dados traduzem um sistema profundamente deficitário: mais de 3,5 milhões de brasileiros, nas maiores 100 cidades do país, despejam esgoto irregularmente, mesmo tendo redes coletoras disponíveis. Além disso, a média em tratamento foi de 50,26%. Em termos de volume, as capitais brasileiras lançaram 1,2 bilhão de m³ de esgotos na natureza em 2013. E um número alarmante é que ainda 4 milhões de brasileiros não têm acesso a banheiro.
“É de conhecimento geral que o saneamento básico é uma das infraestruturas mais atrasadas no Brasil, apesar dos investimentos nos últimos anos, especialmente por parte do Governo Federal”, diz Adalberto Marcondes, diretor de redação da Envolverde, e vencedor em duas categorias (Saneamento e Sustentabilidade) do Prêmio Especialistas 2017. Para Édson Carlos, presidente-executivo do Instituto Trata Brasil, há ainda outros entraves para a melhoria do setor. “A lentidão das licenças ambientais, forte burocracia financeira para que os recursos cheguem aos projetos, mais velocidade para concluirmos as obras atrasadas ou paralisadas por questões jurídicas, dificuldades nos licenciamentos e até mesmo por ausência de projetos bem construídos”, diz o executivo.
Adalberto explica que há muitas iniciativas de organizações da sociedade civil e de empresas que atuam no saneamento que merecem atenção. Hoje os principais indicadores sobre a área são coletados pelo Instituto Trata Brasil, mas há, também, empresas que estão trabalhando para melhorar o atendimento à população. “A abertura do mercado de água e saneamento para empresas privadas mudou o cenário, antes dominado por empresas públicas. É preciso acompanhar a pauta de saneamento nas eleições do próximo ano e cotidianamente, porque o Brasil perde muito com doenças e com uma economia atrofiada por conta de não poder oferecer ambiente de boa qualidade, principalmente no que diz respeito à água dos rios e mananciais, poluída por esgotos de toda ordem”, explica o jornalista.
Édson Carlos acredita que o setor privado vem avançando aos poucos, mas de forma constante. “Quando falamos no futuro, talvez o ideal fosse unir a experiência que o setor público tem em atender essas pessoas há tantos anos com um parceiro privado que chega com tecnologia, recursos, condições de governança e de gestão mais modernas. A questão não é ter um ou outro, mas sim ambos; os dois juntos podem trabalhar mais em prol da sociedade; já ficou provado de que há espaço para todos a fim de melhorar o atendimento e a gestão do saneamento básico”, explica o executivo.
O jornalista também reforça a importância da população para cobrar da esfera pública ações para melhorar o saneamento no Brasil. “E, como 2018 é ano eleitoral, o tema deverá ser uma das mais importantes bandeiras em políticas públicas”, conclui Dal Marcondes.